Veja abaixo o projeto vencedor do Concurso Internacional para o Museu Exploratório de Ciências da UNICAMP, dos arquitetos Daniel Corsi, Dani Hirano e Reinaldo S. Nishimura (CHN Arquitetos), de São Paulo.

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Memorial Descritivo

“A Ciência como instituição e razão deste projeto, torna possível revelar de maneira excepcional a relação do Homem com a Natureza. E se nessa relação, de um lado a Ciência se ocupa com a compreensão do existente, a Arquitetura lida exatamente com o que ainda não existe: apresenta-se como uma oportunidade de expressão do Homem e de sua criação, originando um fenômeno próprio. Diante disso, duas condições absolutas se apresentam: a situação geográfica singular onde será implantado o projeto e a instituição universal a ser manifestada.

Um museu como fenômeno, um fenômeno como paisagem.

Primeiro, o lugar nos mostra ser imprescindível que a relação entre o novo museu e a paisagem origine um acontecimento de escala territorial. O novo museu deve tornar-se um marco no horizonte como um fato geográfico. Um museu que observa e é observado. Um edifício que se revela e origina uma nova relação entre Homem e Natureza, Arquitetura e Paisagem.

Segundo, é determinante que o novo museu deva, acima de tudo, enaltecer o valor da instituição através de sua arquitetura, ser a ciência em si mesmo. O novo edifício deve revelar esse aspecto, ser único e não ser apenas uma construção comum.

Simultaneamente o novo edifício busca em seu desenho a metáfora primeira entre a dimensão infinita do universo e a propriedade humana de compreensão da realidade através da Ciência: intervenção e paisagem, verticalidade e horizontalidade, interior e exterior, luz e sombra, cosmos e indivíduo. A arquitetura como ato determinado da manifestação humana, um instrumento científico de aprendizado e identidade para divulgação da Ciência. Desse modo, revela-se incontestável e determinante a síntese da significação do Museu e sua atuação no território.

PARTIDO / IMPLANTAÇÃO

O projeto para o Museu de Ciências tem em sua essência possibilitar uma infinidade de impressões e compreensões a partir de inúmeras escalas e distâncias. A relação dos usuários com o novo Museu acontece através de um processo de descobrimento e conhecimento progressivo. É esta experiência que gera uma relação contínua e inseparável entre exterior e interior. Desde o princípio as sensações e impressões provocadas devem ser capazes de conduzir um visitante estimulado ao interior do museu, buscando transformar sua intuição em compreensão. A experiência do exterior do edifício deve conduzir a uma seqüencia do que foi apreendido fora e levar a um interior que o inspire ainda mais, mantendo-o sempre conectado à experiência que o trouxe até lá.

A estratégia de implantação busca a predominância da paisagem a qual o museu se soma, contemplando três escalas diferentes: o entorno, o campus e o usuário. O projeto se insere no terreno através de um volume horizontal no eixo Norte-Sul que se acomoda na topografia e cujo ponto mais alto coincide com cota da praça existente, mantendo intacta e potencializando a apreensão do visual panorâmico em toda sua extensão; este mesmo volume se verticaliza e acaba por pontuar o lugar, inaugurando um novo acontecimento no contexto atual do Campus da UNICAMP e da Região Metropolitana de Campinas, sendo visível em um extenso raio formado por cidades, rodovias e

equipamentos. No entanto, somente no conhecimento de seu espaço interno é que essa relação entre elemento horizontal e vertical é plenamente conhecida e entendida.

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O novo museu está contido numa única faixa onde o programa se distribui em espaços e momentos espaciais distintos. A chegada dá-se através de um grande balanço estrutural que leva o visitante à praça/rampa descoberta de acolhimento e acomodação de grupos antes do acesso ao interior do museu: um espaço que, por sua configuração e dimensões, caracteriza-se pela multiplicidade de usos que pode abrigar e uma grande quantidade de usuários.

A partir das áreas de acolhimento, externa e interna, se acessa os espaços públicos em dois níveis distintos. Pelo nível principal, que mantém o usuário sempre visualmente em contato com o exterior, todos os usos de acesso livre (Loja, Biblioteca, Café do Por do Sol e Observatório) e, após o controle de área paga, os espaços de Exposição Temporária e Permanente. A partir desse nível o novo museu também se conecta com as edificações antigas que fazem parte do programa solicitado. Pelo nível inferior se chega à Exposição Multimídia, Auditório e Ateliers de Ciências. Na parte sul do terreno localiza-se o acesso técnico ligado diretamente às docas de Recepção e Armazenamento, bem como acessos técnicos controlados às salas de exposições.

Cada um dos espaços e atividades do programa é dotado de características que os identificam. A Exposição Multimídia, preparada para abrigar a NanoAventura, se configura como um volume que perfura o museu e faz com que seja presente ao longo do percurso interno. Além disso, é acessado por um caminho que remete à ligação do museu com a terra, enquanto o Observatório, localizado no topo do volume vertical, remete diretamente à dimensão espacial. As construções existentes (Praça Tempo-Espaço e Oficina Desafio) são incorporadas através de seus usos e de conexões com a área de acolhimento e cobertura da nova construção, formando uma cota superior de museologia a céu aberto. As expansões previstas se localizarão em volumes na porção oeste do terreno, em cota inferior, não interferindo na volumetria principal, possíveis de serem acessadas separadamente. O agenciamento dos espaços livres se faz por controles que delimitam áreas de atividades que podem ser abertas autonomamente: nível superior e nível inferior no Museu, Oficina Desafio e Áreas Exteriores, sempre assegurando a total segurança do edifício.


MUSEOLOGIA / CIRCULAÇÃO

O edifício do museu se oferece como potente experiência didática da instituição, buscando a imprescindível interação entre arquitetura e a museologia do conteúdo abrigado: uma síntese entre ambos, o museu é uma construção e deve expor-se como tal, assim como a ciência se dá ao conhecimento através da experiência do real. A liberdade dos diversos deslocamentos possíveis vislumbra espacialidades e sensações variadas, configurando um processo de construção do conhecimento através das emoções que o visitante vai vivenciando ao logo de seu movimento pelo espaço. Ensinar através da arquitetura do Museu e, tendo-o como instrumento didático, torná-lo um estímulo fundamental para o visitante perguntar-se sobre o mundo.

Uma concepção de percurso “científico” inicia-se mesmo antes da chegada ao Museu quando, a partir do primeiro contato visual com o edifício, uma leitura (a priori) ocorre através das sensações provocadas por suas características externas, estimulando perguntas e indagações sobre sua natureza e se transformando num entendimento parcial à medida que se aproxima da construção. Num segundo momento, o percurso pelo interior do Museu (conhecimento) se revela como elucidação e compreensão do que havia sido observado antes. Um trajeto de emoções singulares e progressivas capaz de estimular a percepção do usuário enquanto este interage com o interior do Museu. Desvendando a natureza e a forma do edifício pela transição entre espaço interno e externo da praça de chegada, o acesso ao volume horizontal do museu é envolvido pela luminosidade controlada e dinâmica dos fechamentos, o espaço imersivo da exposição temporária e culminando na monumentalidade do espaço vertical dedicado à exposição permanente, o visitante acaba por ter um aprendizado total do Museu. Por fim, o momento de partida define a última observação sobre a instituição (a posteriori): uma visão outra do exterior segundo um repertório distinto e cognitivo, agora dotado de um conhecimento real sobre o objeto e capaz de proporcionar uma visão definitiva de sua visita, considerando que esta será diferente a cada nova ocasião. Um percurso que, como a ciência, se define por momentos de buscas e instantes de intensa descoberta.

SUSTENTABILIDADE / CONFORTO AMBIENTAL

Eficiência Energética: as condições de conforto para o usuário são garantidas através da climatização natural durante a maior parte do tempo pelo fato de que o edifício, em sua totalidade, pode ser controlado manualmente, gerando economia de energia tanto para ventilação (ar-condicionado usado somente quando necessário para compensar condições externas excepcionais ou para exposições específicas), bem como para iluminação. A implantação do projeto também reduz interferências no terreno e possibilita a ocupação de todo o resto da área com vegetação de pequeno ou grande porte. A implantação pontual do projeto também reduz interferências no terreno e possibilita a ocupação de todo o resto da área com vegetação de pequeno ou grande porte.

Fachadas: as placas de alumínio que revestem o edifício funcionando como brises, desempenham uma proteção térmica indispensável nas condições climáticas às quais está exposto o museu. As superfícies são os principais elementos que garantem as condições adequadas de conforto no interior do edifício além da flexibilidade de controle no inverno e verão. A predominância da cor de branca em quase todos os fechamentos exteriores colabora para o desempenho térmico ao refletir o máximo de incidência de radiação e consequentemente, da transmissão de calor para o interior do edifício.

LINGUAGEM / MATÉRIA

Através de sua implantação e forma, além da matéria da qual se constitui, o museu une a Ciência a uma expressividade espacial e sensitiva. Utilizando materiais predominantemente reflexivos (aço, alumínio e vidro) o edifício se torna, primeiramente, um ponto de luz, um reflexo não muito definido à distância, mas que se revela ao aproximar-se. Um brilho difuso que remete a um evento em eterno movimento conforme a luz do dia e da noite. A potencialização de um fenômeno e um estímulo para que qualquer cidadão se pergunte sobre o mundo que o envolve.

A superfície da fachada é criada a partir da idéia de infinito: uma referência à essência de sua forma, reconhecível desde sua escala cosmológica até sua parte mais ínfima. Encontramos semelhanças em

tudo que constitui o universo que nos cerca, e o edifício busca transmiti-las. Do mesmo modo, sendo um Museu de Ciências, a apreensão dessa informação também acontece de maneira progressiva, desde sua concepção até sua compreensão.

Partimos de um conhecimento científico do homem sobre a natureza: o infinito presente na natureza é reconhecido e, posteriormente, parametrizado pelo homem através de conceitos matemáticos e geométricos. Esse conhecimento científico origina um segundo tipo de infinito, sintetizado no conceito de fractal: razão infinitesimal criada pelo homem a partir de sua interpretação das características do meio que o envolve, novas noções de auto-semelhança e complexidade infinita, capazes de entender a natureza em suas ilimitadas escalas. Nosso desenho é uma terceira visão sobre esse conceito. Através da materialidade e da textura do edifício cria-se uma interpretação humana sobre um evento natural.

A partir de um modulo inicial matemático desenha-se um “código” de perfurações que será aplicado às superfícies. Depois, uma padronização de 10 peças é criada, seguindo dimensões industrializadas e variando seu desenho de abertura/transparência de acordo com a quantidade/tamanho das perfurações adotadas. A paginação destas peças nas fachadas do edifício corresponde aos usos internos, sendo mais densa ou difusa de acordo com a luminosidade necessária para as atividades. A repetição e mistura destas peças é capaz de gerar um desenho infinito e parametrizado que será reconhecido na medida em que o usuário observar o edifício, dos pontos mais distantes até o seu interior, descobrindo-o a cada instante.

Fazer com que a matéria da qual se constitui o Museu revele a totalidade de sua existência e venha ter um significado próprio através da linguagem humana. Um acontecimento que sintetiza em si função e forma: símbolo, desenho, protetor climático, fenômeno, elemento didático, parâmetro do infinito. Um Museu capaz de estimular o imaginário e o conhecimento do indivíduo, possibilitando que cada um crie sua história a partir de sua experiência, guardando em sua consciência a magnífica relação existente entre Homem, Ciência e Natureza.”

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Ficha Técnica

Autores: CHN Arquitetos

arq. Daniel Corsi

arq. Dani Hirano

arq. Reinaldo Nishimura

Colaboradores:

arq. André Biselli Sauaia

arq. Laura Paes Barreto Pardo

Equipe:

arq. Andrea Key Abe

arq. Jenniffer A. dos Reis

estag. Lidia Neves Martello

estag. Amanda Nascimento Higuti

estag. Tatiana Hummel

Consultores:

Ar Condicionado: eng. Raul José de Almeida

Astronomia: astr. Bruno Sinopoli

Conforto Ambiental: arq. Mônica Marcondes e arq. Boris Villen

Estrutura: eng. Eduardo Knothe

Fundações: eng. Ilan Gotlieb

Museografia: mus. Inês Coutinho

Orçamento: eng. Ricardo Zulques

Maquete: Leon Richard Benkler

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Agradecemos ao Museu Exploratório de Ciências da UNICAMP e aos autores do projeto pela disponibilização das imagens e informações.