Concurso – Complexo do Hotel Paineiras – RJ

1º Lugar:  Estudio América – Carlos Garcia, Guilherme Lemke Motta, Lucas Fehr, Marcus Vinicius Damon, Mario Figueroa

_______________________________________________________________________

Parecer da Comissão Julgadora

“A Comissão Julgadora declara preliminarmente, a sua convicção de que esta proposta, conceitualmente consistente e com nível superior de qualidade, constitui uma contribuição relevante ao debate arquitetônico. Relevante é apontar o equilíbrio entre as soluções formais, funcionais e técnico-construtivas, disto resultando conjunto que harmoniza adequadamente as partes. Importante e decisiva para a qualificação da proposta foi a solução adotada para “encaixe” entre a edificação existente (Hotel) e a nova, feita por meio de composição em que os respectivos eixos, com leve inflexão, se compatibilizam e originam espaço aberto de transição. A solução formal do conjunto edificado é nova, forte e instigante, ao mesmo tempo que estabelece relação harmoniosa com o entorno de grande valor paisagístico. É de destacar o correto ordenamento dos fluxos de automóveis, vans e pedestres, com chegada e saída de veículos através de acesso independente do transito da Estrada das Paineiras. O estacionamento em vários níveis permite resolver bem os fluxos respeitando afastamento da faixa marginal do “Rio Cabeça” de forma ambientalmente correta. Sobre o estacionamento uma cobertura verde, de modo criativo, integra os diferentes componentes do complexo. No volume do hotel a relação existente entre cheios e vazios, com pequenas correções, restaram à qualidade original comprometida por sucessivas reformas e acréscimos. Internamente, a criação de vazios resolvem o plroblema dos apartamentos voltados para o muro da linha férrea. Isto é feito apesar das dificuldades impostas pela estrutura de concreto existente. O acréscimo de novo volume na mesma prumada e descolado por pavimento intermediário contendo restaurante panorâmico, resulta em conjunto volumetricamente interessante. A proposta requalifica formal e funcionalmente o hotel existente. A solução estrutural adotada no novo conjunto edificado é expressiva e plasticamente marcante.” (transcrição do documento original)

Memorial Descritivo

A OPORTUNIDADE NA FLORESTA

Projetar um complexo dentro da maior floresta urbana do planeta, a Floresta da Tijuca, pode a princípio parecer uma contradição. Um território que se constitui como o grande pulmão verde do Rio de Janeiro deveria, numa primeira aproximação, ser intocável. Mas o enorme fluxo de pessoas que diariamente se dirigem a uma das “sete maravilhas” do mundo moderno, o Cristo Redentor, subverte essa lógica original. Como acomodar essa aparente “incompatibilidade”? Surge então possibilidade de se transformar esse antagonismo em uma oportunidade positiva. Para além da resolução de um complicado emaranhamento de fluxos e transportes, de usos distintos, pode-se aproveitar a passagem de até 6.000 turistas/dia para informá-los e conscientizá-los das riquezas da floresta e da importância da sua preservação.

A OPÇÃO PELA PAISAGEM

O concurso coloca uma questão crucial para o projeto: o grande número de vans e automóveis que deveriam ser abrigados em meio à Floresta da Tijuca. Isto requereu uma opção de partido que opunha duas situações bastante distintas: ou se elevava o estacionamento, obstruindo as visuais da paisagem e com o comprometimento do caráter local, um pouso na subida ao Cristo, ou se acomodava o estacionamento ao terreno, liberando a paisagem e as visuais aos visitantes, através de um corte, relativamente pequeno se comparados à importância do empreendimento e à escala monumental da natureza.

A ESTRATÉGIA DO PROJETO FRENTE AO PATRIMÔNIO

Uma edificação é objeto testemunho da vida e da arquitetura de seu tempo. Assim, como estratégia de projeto, considerou-se conveniente a clara demarcação das épocas das intervenções. Propõe-se a recuperação das edificações originais, que receberão adições claramente identificáveis e justificáveis, necessárias para as novas funções anteriormente não contempladas.

O ORDENAMENTO DE USOS E FLUXOS

O projeto ordena os diversos fluxos e interferências que ocorrem e passam pelo local. São situações extremamente complexas, pois há interferências entre os circuitos de vans municipais que fazem o trajeto Paineiras-Corcovado, vans de agências que vêm da cidade, taxis, veículos particulares, além da necessidade de grande número de vagas de estacionamento, do embarque e desembarque do Trem do Corcovado e da absoluta necessidade de preservar a fluidez do trafego da Estrada das Paineiras.

A SOLUÇÃO DO PROBLEMA

O partido do projeto adotou como prioridades o passeio, como essência do sentido de se estar no Parque, e a paisagem, como protagonista exuberante. Para suavizar a implantação da Estação de Transferência, sua cobertura, um teto jardim permeado de vazios, uma nova topografia porosa, que configura um passeio e que conecta todo o complexo: estação, estacionamentos, plataforma de embarque do trem, hotel, salões de exposições, restaurante, lanchonete, café e centro de convenções.

O programa foi distribuído conforme as possibilidades das edificações existentes, pensando-se sempre em uma lógica de utilização integral dos espaços. Turistas e hóspedes passearão pelos novos circuitos das cotas das praças e da cobertura-jardim, um verdadeiro mosaico de espécies da Mata Atlântica. Ao longo do passeio, que se origina nas escadas da estação, ou na suave rampa que desce da plataforma de trem da Estação Paineiras, tem-se um mostruário da flora, um museu a céu aberto, com informações e dados ecológicos. Passa-se pela Praça do Trem, onde, junto a espelhos d’água, estão as lojas e bicicletários. O final deste percurso é um mergulho sob o Pavilhão do Café, o antigo alpendre de 1915, com a visualização da paisagem através deste, e a chegada ao deck que defronta o vale do Rio Cabeça, e dá acesso à Lanchonete sob o Pavilhão; seguindo, pelo mesmo caminhar, atinge-se o Instituto Chico Mendes. Mas antes, pode-se dirigir, pela Praça do Hotel, aos espaços de exposições e ao saguão de recepção. Ali, no pavimento térreo, removeu-se a parede dos fundos, para que mais luz penetrasse, e descortinasse a rocha que se transforma assim em pano de fundo deste espaço.

No subsolo, fica o apoio do hotel e uma única cozinha central atende tanto ao restaurante superior, como à lanchonete e ao café. Os antigos apartamentos, recuperados e adaptados, ocupam os mesmos pavimentos originais, de 1921, mas dois grandes vazios proporcionam mais luz, melhor aeração e uma conexão visual com os demais andares. Abrigando o Centro de Convenções, que conta com acessos independentes, um novo bloco é adicionado sobre o edifício do hotel. Ali, estarão o auditório, salas de conferencias e serviços correlatos. Entre o novo e o antigo, na antiga cobertura, os apartamentos do terceiro pavimento, não constante do projeto original, foram removidos e um novo restaurante panorâmico desfruta da belíssima vista até o mar.

Planta - Estação de Transferência - Estacionamento

Planta Estacionamento + Apoio Hotel

Planta - Jardim Suspenso + Exposições + Café

Plantas Hotel + Convenções

Corte_Longitudinal

Elevação Estrada

_______________________________________________________________________

FICHA TÉCNICA

Estúdio America

Autores
Carlos Garcia
Guilherme Lemke Motta _ Arquiteto Inscrito
Lucas Fehr
Marcus Vinicius Damon
Mario Figueroa

Colaboradores
Amanda Renz
Christián Ribeiro
Juliana Baldocchi
Kalina Juzwiak
Luiza Monserrat
Mario do Val
Pedro Lindenberg
Tiago Collet

Consultores
Luciano Castanho_ Hotelaria e Turismo
Ricardo Dias _ Cálculo Estrutural

_______________________________________________________________________

Fonte: IAB-RJ e Estudio America. Agradecemos aos autores pela disponibilização do projeto.