Veja a seguir o projeto do Mercado Central de Cádiz, na Espanha, de autoria do escritório Riaño + Arquitectos. O projeto é resultante de concurso restrito (do qual participaram dez escritórios de arquitetura, com etapa de pré-qualificação) realizado em 2007. A obra foi concluída em 2010.
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Memorial Descritivo
(texto dos autores, editado e traduzido pela editoria de concursosdeprojeto.org)
Trata-se do projeto de recuperação de um dos primeiros edifícios construídos na Espanha com a finalidade de ordenar e acolher a comercialização de produtos e alimentos que até então ocorria de forma ambulante, nas ruas. O edifício é contemporâneo ao mercado Coetáneo, de Sevilha e ao mercado Puerto Real, e antecede os mercados que a partir de 1840 foram construídos em Madri, Barcelona e Santander.
O edifício original é uma transição entre a praça aberta e o que mais tarde seriam os mercados cobertos. No início foi difícil distinguir os elementos da construção original, devido à estrutura interna massiva, inserida posteriormente. A observação do edifício a partir de sua cobertura, no entanto, permitiu esclarecer as dúvidas e “separar o joio do trigo”. A partir da cobertura foi possível identificar as quatro portas internas, que não eram visíveis no nível do pedestre.
Existiam, no mercado, duas arquiteturas claramente diferenciadas. Uma neoclássica, finalizada em 1838, com autoria de Juan Daura e outra, mimética, concebida por Juan Talavera, concluída em 1929. A segunda ocultava a primeira e impedia a visão do monumento original. Nesse ponto, a decisão foi clara: a parte central, construída posteriormente, foi demolida. Deve-se ressaltar a falta de ventilação da cobertura demolida e a ausência de luz natural, que obrigava permanentemente a utilização de luz artificial, gerando desconforto aos usuários e prejudicando a comercialização dos produtos.
Foram estabelecidas algumas premissas básicas no projeto: o edifício antigo deveria respirar e ser contemplado em sua totalidade; o novo deveria ser aberto, permeável e transparente, e com capacidade semelhante à parte demolida. O novo interior, bem iluminado e ventilado, permitiu perspectivas abertas e a percepção da colunata circundante, de arcos e acessos.
O edifício histórico foi objeto de uma profunda restauração, com a recuperação dos elementos até então ocultos. O peristilo interior remete a ordens arcaicas dos templos de Paestum e Agrigento, recuperados anos antes por John Nash em Londres e posteriormente utilizados pelos nórdicos. A ideia de mercado aberto foi mantida, conectando-se claramente à rua, graças às condições climáticas de Cádiz.
O projeto resultou de concurso restrito entre dez arquitetos, com fase de pré-qualificação, promovido pelo governo espanhol (Ministerio de Fomento – Dirección General de la Vivienda, la Arquitectura y el Urbanismo, Subdirección General de Arquitectura).
O mercado ocupa uma área limitada pela Plaza de la Libertad, rua Alcalá Galiano e rua de la Libertad, de formato aproximadamente retangular, com dimensões de 106,75m; 56m; 106,73m e 55,78m, totalizando uma superfície em planta de 6.602,93m2.
O novo edifício foi construído no interior do antigo, e o contato perimetral entre as duas edificações foi limitado ao mínimo necessário ao o diálogo fluido entre as duas arquiteturas. Assim como na galeria coberta central, um amplo vão de concreto protege os módulos exteriores do mercado. O esquema da planta é, portanto, muito simples.
A nova disposição dos módulos de venda internos e externos inclui dois blocos nos lados menores, onde se instalam os núcleos de comunicação com o sótão. Vários espaços foram ampliados, a fim de conferir mais conforto e comodidade aos usuários. Acima do térreo há dois mezaninos, destinados a escritórios, café, salas de reunião e arquivo.
A estrutura é definida por painéis em concreto branco que servem como divisórias entre os módulos e suportam o vão de 3,30m. A estrutura é complementada por pilares em concreto de 60x30cm, sobre os quais se apóiam vigas com seção de 130x30cm, que suportam a cobertura.
O corpo superior, que se destaca sobre a marquise cicundante é fechado por painéis compostos por lâminas de vidro serigrafado, fixados a 45 graus, com dimensão de aproximada de 180×30 (cada painel), sobre estrutura metálica tubular de aço inoxidável. A opção pelas venezianas em vidro decorre de sua transparência, que permite a visibilidade do edifício histórico, além de conferir leveza à nova edificaçãjo, ao mesmo tempo em que permite a ventilação do espaço interno.
Concreto branco e vidro, com um cuidado estudo dos módulos de venda e exposição, em função das necessidades do cliente, convivem perfeitamente com a “pedra ostionera”(rocha sedimentar porosa, composta por restos de conchas marinhas) que reveste partes do edifício antigo.
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Ficha Técnica
Arquiteto
Carlos de Riaño Lozano – Riaño + Arquitectos
Colaborador
Mario Marcos Pinero
Arquiteto técnico
Felipe Martínez
Promotor
Prefeitura de Cádiz / Ministério de Fomento – Espanha
Localização
Plaza de La Libertad, RuaAlcalá Galiano, Cádiz – Espanha
Área Construída
6636 m2
Área de Urbanização Externa
6105 m2
Estruturas
OTEP INTERNACIONAL
Instalações
JG INGENIEROS
Construção
ISOLUX – CORSAN
Fotografia
JAVIER REINA GUTIERREZ
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Agradecemos ao escritório Riaño + Arquitectos pela disponibilização do material para publicação.