Em homenagem a Paulo Mendes da Rocha, com o objetivo de ampliar o alcance dos ensinamentos do mestre e de democratizar o acesso ao seu pensamento, o portal concursosdeprojeto.org disponibiliza gratuitamente, para fins não comerciais, a versão digital do livro de entrevistas Paulo Mendes da Rocha: sobre concursos e memórias.

A seguir, o texto de apresentação e o artigo da professora e pesquisadora Maria Helena Flynn, ambos publicados em 2018, no livro editado pelo portal concursosdeprojeto.org em conjunto com gsr editores, em homenagem aos 90 anos do arquiteto.
Link para acesso ao pdf do livro no final desta publicação.
Sobre concursos e memórias… (*)
(*) Fabiano José Arcadio Sobreira e Paulo Victor Borges Ribeiro. Setembro, 2018.
A ideia de entrevistar Paulo Mendes da Rocha surgiu da celebração dos dez anos do portal e revista concursosdeprojeto.org, projeto editorial iniciado em 2008 e dedicado aos concursos de arquitetura. Contamos com a gentileza de Paulo Mendes, que nos recebeu em em seu escritório e da amiga e arquiteta Maria Helena Flynn, uma das maiores pesquisadoras sobre a história dos concursos de Arquitetura no Brasil[1], que nos apresentou ao arquiteto, participou da entrevista e assina o belo texto que antecede a transcrição da entrevista.
A intenção inicial era publicar o registro na seção “entrevistas” do portal concursosdeprojeto.org, mas o que seria um breve encontro se transformou em agradáveis horas de conversa, sobre concursos e memórias… Daí concluímos que não poderíamos desperdiçar tão valioso registro no amplo porém ao mesmo tempo superficial universo digital da internet. Precisávamos compartilhar e eternizar aquele encontro com a materialidade e a perenidade que só um livro permite, por mais simples que seja. E assim surgiu esta pequena contribuição, um presente que recebemos e que compartilhamos.
Uma parte importante de nossa formação, enquanto sociedade brasileira, foi (e continua sendo) construída por meio da tradição oral, da “contação de histórias”. A herança africana e indígena que corre em nosso sangue e que habita nossa memória, se deve muito aos relatos passados dos avós para os filhos e destes para os netos e bisnetos. Grande parte de nosso caráter se constrói a partir de histórias que nos são contadas, por aqueles que admiramos. Paulo Mendes, como mestre de gerações, distribui generosamente seu pensamento em conversas, em “contações de histórias”. Grande parte de seu pensamento não está reunida em tratados de Arquitetura ou Filosofia, em textos formalmente construídos com tal propósito. O pensamento de Paulo Mendes flui nos encontros. Ao ler as dezenas de entrevistas concedidas em suas décadas de maestria (como arquiteto e professor), nos damos conta da força e coesão de suas ideias, e de como extrapolam o universo da Arquitetura.
A extensa obra do arquiteto tem sido amplamente estudada e divulgada em publicações e pesquisas acadêmicas, em especial após a condecoração com o Prêmio Pritzker em 2006. Parte relevante dessa obra é resultante de concursos, materializados ou não. Desde o final dos anos 1950 seus projetos já frequentavam as edições das revistas especializadas no Brasil, com destaque para a Acrópole. Aos 29 anos venceu seu primeiro concurso, para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em conjunto com Pedro Paulo de Melo Saraiva (25) e Alfredo Paesani (27), projeto que estampou a capa da Acrópole de fevereiro de 1958 (número 232), três anos após sua graduação na Universidade Mackenzie, de São Paulo. No ano seguinte Paulo Mendes venceu (em conjunto com o arquiteto João Eduardo de Gennaro, 29), o concurso para o Clube Atlético Paulistano, publicado na revista Habitat (n.47, 1958) pela premiação no concurso e posteriormente na Acrópole (n.276, 1961) e Módulo (n.27, 1962), em decorrência da premiação na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Em 1967 foram publicadas duas edições especiais consecutivas da Acrópole sobre sua obra: em agosto e setembro. A primeira traz na capa o projeto – não premiado – para o concurso do Clube da Orla do Guarujá de 1963 (também em conjunto com de Gennaro), projeto que serviu de ponto de partida para nossa conversa, como símbolo da permanência e força da Arquitetura enquanto ideia, mesmo quando não materializada. Muitos desses projetos habitam o campo das potencialidades, mesmo quando nunca construídos ou quando já desmaterializados, pois permanecem como lições de Arquitetura.
Os concursos solicitam dos arquitetos uma forma peculiar de construção e exposição das ideias, pois na maioria das vezes os autores não estão presentes diante do júri na defesa de seus projetos, restando ao desenho, ao texto e aos diagramas a função de comunicar as propostas e seus significados. Nesse contexto, a didática e a retórica do traço e do texto são instrumentos essenciais para a síntese projetual, elementos presentes na obra de Paulo Mendes, mesmo quando não está em situação de concurso.
Os concursos de projeto estão presentes ao longo de toda a carreira do arquiteto. É válido ressaltar que mesmo após o prestígio galgado ao longo de sua carreira os concursos continuam presentes em sua praxis, hoje em parceria com as novas gerações, como foi o caso do concurso para o Museu do Século XX de Berlim , aos 87 anos. Por meio de um levantamento bibliográfico (Maria Helena Flynn, Maria Isabel Villac, Catherine Otonto e Daniele Pisani) foram listadas mais de 40 participações em concursos, cinco das quais foram propostas vencedoras e edificadas: Assembleia legislativa de Santa Catarina (1957), Clube Atlético Paulistano (1959), Jockey Clube de Goiânia (1962), Pavilhão do Brasil para a EXPO Osaka 70 (1969) e Museu Brasileiro da Escultura (1985).
Os nossos encontros, enfim, nas agradáveis tardes em seu escritório, no centro de São Paulo, a partir do mote “concursos”, nos permitiram ouvir reflexões e relatos sobre a vida, a sociedade, a política e, também sobre a arquitetura.
Ficamos felizes que este livreto, pequeno em formato porém, para nós, de imenso valor simbólico, chegue ao público no ano em que Paulo Mendes comemora seus 90 anos. Nós fomos presenteados.
Fabiano José Arcadio Sobreira
Paulo Victor Borges Ribeiro
Brasília, setembro de 2018.
[1] Maria Helena Flynn é autora da Tese de Doutorado “Concursos de Arquitetura no Brasil: 1850-2000”. (FAU/USP, 2001)
Prolongando a conversa… sobre concursos e memórias. (*)
(*) Maria Helena Flynn. Setembro, 2018.
Há muitos anos, década de sessenta, quando era ainda estudante do quarto ano da FAU/USP, no início do ano letivo, sendo nosso professor Eduardo Kneese de Mello, ele nos perguntou, ou melhor, sugeriu que escolhêssemos o tema de um trabalho de História que seria desenvolvido ao longo do semestre.
Minha sugestão foi elaborar um pequeno ensaio sobre os concursos de Arquitetura que naquela época eram numerosos e conseguiam significativa adesão dos escritórios de Arquitetura de nossos professores.
Os resultados dessa atividade logo se faziam presentes, com a chegada das revistas de arquitetura: Acrópole, Habitat, de São Paulo e Arquitetura do Rio de Janeiro, que faziam excelente cobertura dos concursos.
Publicavam na íntegra os editais, as atas de julgamento e os projetos premiados, não esquecendo do memorial descritivo que acompanhava os projetos.
Os concursos de Arquitetura daquela época foram certamente, para aquela geração de arquitetos e estudantes de arquitetura, uma prática insubstituível do aprendizado arquitetônico.
Passados alguns anos, retomei o tema, para elaboração do conjunto de trabalhos que caracterizam as atividades de pós-graduação, na FAU/USP. Na primeira fase,os concursos após o ano de 1921, data da criação do Instituto de Arquitetos do Brasil e numa segunda fase, os concursos anteriores ao ano de 1921.
Diversas circunstâncias ligadas à história da cidade de São Paulo e de Porto Alegre, e outras muito mais práticas, como a existência de jornais passíveis de serem lidos, as atas da câmara da cidade de São Paulo já impressas e minha curiosidade, me levaram à data redonda de 1850.
Portanto, nestas paragens brasileiras, temos notícias da realização de cerca de quase 700 concursos de Arquitetura ocorridos entre 1850 e a presente data.
A criação do IAB em 1921 na cidade do Rio de Janeiro é certamente um divisor de águas nestes últimos 168 anos. Seu surgimento foi mola propulsora para a realização de uma série de concursos que resultaram na construção de elegantes palácios ecléticos para sediar as festividades comemorativas do Centenário da Independência, 1922. Dois deles ainda de pé.
Até a Proclamação da República, na cidade de São Paulo, então província do Império, foram realizados quatro concursos muito importantes.
O primeiro – 1879, para a santa casa de misericórdia de São Paulo, no bairro do Arouche, centro da cidade, hospital que hoje recebe para tratamento doentes oriundos de todos os rincões do estado de São Paulo. foram julgados os 10 projetos apresentados, vindos das cidades do Rio de Janeiro, Campinas e São Paulo. Luigi Pucci sagrou-se vencedor. o segundo – 1884, para o matadouro de Vila Mariana, consagrou Alberto Kuhlmann. Construído, hoje abriga a sede da Cinemateca Brasileira.
Porém, outros dois concursos para a mesma finalidade – erguer o marco comemorativo da independência em terras paulistas, pelo fato do “grito” aqui ter ocorrido, não tiveram o mesmo resultado, fracassaram por motivos políticos. Comissões organizadas para esta finalidade nos anos de 1876 e 1884 receberam 5 e 13 projetos respectivamente. Aqui avaliados, a corte imperial solicitou um segundo exame. Enviados por trem ao Rio de Janeiro simplesmente sumiram. O edifício então construído é hoje o famoso Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, que ao comemorar o centenário de sua inauguração em dezembro de 1990, sendo então seu diretor o professor da USP Ulpiano Bezerra de Menezes, publicou livreto que incluiu um breve relato destes concursos.[1]
Portanto, estabelecer uma primeira versão da história desses concursos, entre os anos de 1850 e 1921, dependeu exclusivamente de arquivos e bibliotecas públicas, cujas precariedades de organização e atendimento todo pesquisador conhece.
O papel da imprensa ainda aguarda a merecida atenção. Os jornais que então circulavam gastavam muito mais papel e tinta do que os atuais, pois abriam espaços generosos para a ampla apreciação dos projetos concorrentes em exposição pública, antes do julgamento. Leigos e especialistas, apreciadores das questões de arquitetura, urbanismo e paisagismo, além dos próprios concorrentes, exprimiam suas opiniões elogiosas ou críticas, pelas colunas dos jornais, com direito a réplicas e tréplicas.
A data de 1921 abre um período caracterizado por três questões: a primeira – criação da rede dos institutos de arquitetos em todos os estados brasileiros; a segunda, – o surgimento das nossas revistas de arquitetura que também circulavam no estrangeiro; e a terceira, a abertura das escolas de Arquitetura e Urbanismo públicas, sediadas nas capitais dos estados. Assuntos estes que vêm recebendo o devido interesse do mundo acadêmico. Esse período se estendeu por cinquenta anos.
De 1970 para cá foram outros quase cinquenta anos. Assistimos – primeiro, à explosão da criação dos cursos privados de Arquitetura – mais de vinte na cidade de São Paulo e mais de dez em Brasília, o mesmo sucedendo nas mais importantes cidades brasileiras. Segundo – surgimento de novos núcleos associativos de arquitetos ligados a sindicatos e a campos específicos do exercício profissional, como ABAP, ABEA, ASBEA, ABDI, entre outros… o que resultou na fragilização política da classe de arquitetos junto à opinião pública. Terceiro – o lento e triste desaparecimento das nossas revistas de Arquitetura… hoje substituídas pela difusão através das mídias sociais. Quarto – o surgimento dos centros de pós-graduação em universidades públicas e privadas e por último a recente criação do CAU em 2010, que deu origem a uma nova questão: qual o justo relacionamento dessas entidades entre si e de cada uma com a opinião pública?
Na pós-graduação há um hiato entre a finalização dos trabalhos acadêmicos e sua publicação. Lembro-me de Darcy Ribeiro, discursando a 3 mil estudantes de todo o país, presentes a um encontro da SBPC no Campus da USP e que reunidos no saguão “caramelo” do Artigas, nos disse: “a história deste país só será conhecida com o resultado da produção dos trabalhos de pós-graduação…”
Alguém conhece algum livro sobre a história de cada um dos IABs? O de são paulo completa no próximo dia 6 de novembro 75 anos.
Alguém conhece algum livro sobre as escolas públicas de arquitetura ? Exemplar exceção é o livro de Sylvia Ficher sobre os arquitetos politécnicos, publicado pela USP em 2005 por ocasião do centenário da fundação da Escola Politécnica de São Paulo. Sua obra retrata o ensino de Arquitetura na escola e nos traz a biografia de cada um dos professores, bem como os engenheiros-arquitetos lá formados.[2]
Alguém conhece algum livro sobre as nossas revistas de Arquitetura ? Em 1993, na 2ª bienal de arquitetura (ainda instalada no pavilhão do Parque Ibirapuera, de Niemeyer), a FAU/USP de São Carlos montou uma belíssima exposição de revistas brasileiras e estrangeiras no saguão do edifício, cujo legado documental foi um singelo catálogo que o visitante recebia ao entrar. As nossas revistas, editadas entre as décadas de 1930 e 1960, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, perpetuaram aos interessados e principalmente aos estudantes de Arquitetura que as folhearem, conhecer, apreciar e analisar, os projetos premiados em concursos de Arquitetura e muitas vezes também os projetos concorrentes, não premiados, de autores bastante conhecidos. As matérias incluíam a publicação dos editais, das atas de julgamento, fotografias dos desenhos e maquetes, dos projetos premiados.
Nesse longo período tivemos avanços: a criação da Lei Federal de nº 125 de 3 de dezembro de 1935 de autoria do deputado mineiro Daniel Serapião de Carvalho, que diz:
“Artigo 5º – nenhum edifício público de grandes proporções será construído sem prévio concurso para escolha do projeto respectivo. No concurso tomarão parte somente profissionais habilitados legalmente.”
Em 1966, o memorando final do VI Congresso Brasileiro de Arquitetos, realizado em Salvador, Bahia, redigido pelo relator escolhido, Vilanova Artigas, recomenda que haja 3 etapas para a realização de uma obra pública: primeiro o concurso de projetos arquitetônicos. Este elaborado e definitivo, será objeto de uma segunda etapa, qual seja, a escolha por meio de uma concorrência da empreiteira que irá erguer a obra e a terceira e última etapa, uma licitação para escolha da entidade que financiará a obra.
Nos anos 1970, Alfredo Paesani lutou pelo cancelamento das “concorrências integradas”.
Passadas duas década, assistimos ao início do retrocesso, pois sem a devida consulta ao IAB, a Lei Federal de nº 8.220 de 4 de setembro de 1991,que foi apresentada ao Congressopelo deputado gaúcho do PDS/RS Adylson Motta diz que :
“Artigo 3º – as comissões julgadoras serão integradas, obrigatoriamente, por um representante do conselho federal de engenharia, arquitetura e agronomia.”
Hoje acompanhamos preocupados todas as tentativas de alterações das leis de licitações públicas para obras, onde só perdemos terreno.
Atualmente, está ameaçado o direito do IAB de promover, organizar e julgar os concursos para obras públicas de Arquitetura, por conta do avanço no Congresso Nacional da lei que regulamenta o “regime diferenciado de contratações públicas”, o RDC. Criticando veemente a lei, em artigo para o jornal carioca O Globo, diz Luiz Fernando Janot:
“Essa lei cria o sistema de contratação integrada, onde todos os serviços vinculados a uma determinada obra deverão ser contratados exclusivamente com uma única empresa, ou seja, se contrapondo ao princípio que recomenda desvincular os projetos da contratação das construções. (…) Ao ser dispensada a exigibilidade do projeto básico no processo de licitação, a empresa vitoriosa ficará com a incumbência de elaborá-lo posteriormente com base na estimativa orçamentária que apresentou para concorrer. Ou seja, se dará para a raposa a chave do galinheiro.”[3]
Em prol da realização dos concursos públicos, destacados profissionais se pronunciaram ao longo destes anos. Augusto de Vasconcellos em 1937; Roberto Cerqueira César em 1960, Eduardo Corona em 1964, e Jorge Caron em 1988, dentre muitos outros. Muito lutou por esta questão Miguel Pereira em sua longa gestão à frente do IAB nacional.
Irmanados aos arquitetos nesta batalha em defesa da boa arquitetura, encontramos artigos na imprensa, assinados por jornalistas com larga penetração no mundo cultural, como Geraldo Ferraz e mais recentemente Raul Juste Lores, que em 2010, preocupado com a qualidade das obras para a Copa e as Olimpíadas, revela sua inquietação com o rumo dos concursos de Arquitetura.
Momento extraordinário foi a passagem do Ecletismo para o Moderno. Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade saíram em defesa dos poucos e raros projetos modernos que então estreavam em meio à maioria de projetos ecléticos, apresentados em concursos dos últimos anos da década de 20, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Foram os casos dos concursos de 1927 para a Embaixada da República Argentina no Rio de Janeiro; de 1928 para o edifício central da Universidade de Minas Gerais e de 1929 para o Palácio do Congresso Estadual de São Paulo.
Poucos anos depois, em 1935, na cidade do Rio de Janeiro, vai acontecer exatamente o contrário. O júri premiou um projeto em estilo Marajoara, que foi cancelado e contratada a equipe de Lucio Costa, que idealizou o projeto definitivo para a sededo Ministério da Educação, na Esplanada do Castelo, inconfundível marco inaugural da prestigiada arquitetura brasileira, que surpreendeu o mundo. Certamente o episódio mais conhecido da história da arquitetura moderna brasileira, aqui e no mundo.
Sobre o concurso para aquele prédio, hoje conhecido como Palácio Capanema, prestigiados autores como Roberto Segre[4] e Lauro Cavalcanti[5] já publicaram seus livros. Porém, o trabalho pioneiro se deve a uma norte-americana: Elizabeth Davis Harris[6], que após meses de busca pelos projetos originais do concurso, os descobriu num canto do arquivo carioca do MEC, sob grossas camadas de quase 50 anos de pó! Seu livro foi publicado pela arquiteta Carla Milano, proprietária da Editora Nobel, em 1987.[7]
Outros ministérios da era Vargas também foram objeto de concursos públicos para suas sedes. Construídos, porém hoje esquecidos, ofuscados pelo Palácio Capanema.
Porém, a questão ligada à linguagem da Arquitetura ainda não estava pacificada.
O Instituto de Engenharia de São Paulo, em 1942, promoveu o concurso para a sua sede no centro da cidade de São Paulo. Recebeu inúmeros projetos, mas ao serem abertos, verificaram que a maioria eram modernos, e simplesmente cancelaram o concurso.
Quatro anos depois, o IAB-SP, em outubro de 1946, instituiu concurso para sua sede, localizada a quadra e meia da Praça da República, centro novo da cidade de São Paulo. Vários projetos apresentados e entre os jurados Oscar Niemeyer. Foi entregue ao Rino Levi a incumbência de definir e detalhar o projeto final, que reuniu arquitetos de 3 equipes diferentes. O edifício passou a ser ocupado no 1º semestre de 1951.
Vários IABs também organizaram concursos para suas sedes: RJ, RS, BA, PE, MG, DF e GO, dos anos 1950 aos dias de hoje.
O mesmo se deu com o Clube de Engenharia no Rio de Janeiro, década de 1950 e um segundo concurso para o Instituto de Engenharia de São Paulo em 1989.
CREAs também adotaram o mesmo procedimento para erguerem suas sedes: SP, MG, PR, DF e BA.
Paulo Mendes da Rocha iniciou sua vitoriosa carreira de arquiteto, da mesma forma que seus mais ilustres colegas de profissão.
Como Lucio Costa, nascido em 1902 e que na qualidade de recém formado foi premiado em concursos para edificações neocoloniais no início dos anos 1920; em 1938 vence o concurso para o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova Iorque e finalmente, em 1957, o concurso para o Plano Piloto para a nova capital do Brasil: Brasília.
Como Oswaldo Arthur Bratke, nascido em 1907, que venceu o concurso para o viaduto Boa Vista, no centro velho da cidade de São Paulo, em 1930.
Como Oscar Niemeyer, nascido em 1907, premiado em 2° lugar para o Pavilhão do Brasil para a Feira Mundial de Nova Iorque, em 1938.
Como Affonso Eduardo Reidy, nascido em 1909 e vencedor do concurso para o Albergue da Boa Vontade, com seu colega Gerson Pompeu Pinheiro no ano de 1931.
Como João Batista Vilanova Artigas, nascido em 1915,e premiado em segundo lugar para o Paço Municipal de São Paulo em equipe com Gregori Warchavchik em 1939.
Paulo Mendes da Rocha, nascido em 1928, venceu o concurso parao Ginásio de Esportes do Clube Paulistano em 1958, em equipe com João de Gennaro, cujo projeto recebeu a maisimportante láurea na VI bienal de São Paulo, o “Grande Prêmio Internacional Presidência da República”.
Paulo Mendes da Rocha faz parte do mais significativo grupo de arquitetos brasileiros, pois é:
daqueles cuja obra norteia os destinos da linguagem de sua época;
daqueles que orientam a política cultural de Arquitetura pela atuação à frente do Instituto de Arquitetos do Brasil, tendo sido presidente do IAB-SP em dois momentos: 1972-1973 e 1986-1987;
daqueles, que fizeram do ensino de Arquitetura em universidades públicas a tribuna para expressão de suas ideias relativas à presença do homem no planeta terra, cuja transformação das riquezas naturais e industriais garantiriam seu habitat e sua alimentação para o pleno desfrute das riquezas artísticas.
Seus projetos para o Ginásio de Esportes do Clube Paulistano e para o MUBE passaram a integrar o significativo conjunto dos edifícios que marcam a paisagem da cidade de São Paulo, como a Santa Casa (1879); Cinemateca (1884); Viaduto do Chá (1934); Mausoléu e Obelisco (1938); Catedral Ortodoxa de São Paulo (1942); Assembleia Legislativa de São Paulo (1961); Quartel General da Segunda região (1965); Reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981); e muitos outros, todos obtidos por concursos públicos nacionais.
A cidade do Rio de Janeiro também exibe belíssimos edifícios, como o Teatro Municipal (1904); Monumento Cristo Redentor (1921); Sede da Associação Brasileira de Imprensa (1936); Aeroporto Santos Dumont (1937); Monumento aos Pracinhas (1956); Sede da Petrobrás (1968); cujos projetos foram objeto de concursos públicos.
Alçados à categoria de símbolos nacionais reconhecidos internacionalmente, o Monumento Cristo Redentor e o Plano Piloto para a cidade de Brasília.
Portanto, ficamos satisfeitos quando um brasilianista, Edward Anthony Riedinger, afirma em 1991: “neste século a atividade cultural no Brasil se desenvolveu mais que em qualquer outro país da América Latina”.[8]
[1] Concursos Públicos para o Monumento do Ipiranga. Maria Helena Flynn. Em catalogo: Às margens do Ipiranga 1890-1990. Exposição do centenário do edifício do Museu Paulista da USP.SP, Museu Paulista da USP, dezembro 1990.
[2] Os arquitetos da Poli: ensino e profissão em São Paulo. Sylvia Ficher. SP, FAPESP-EDUSP, 2005.
[3] Concursos ameaçados. Luiz Fernando Janot. RJ, O Globo, 9 julho 2011, p.7.
[4] Ministério da Educação: ícone urbano de modernidade brasileira (1935-1945). Roberto Segre. SP, Romano Guerra Editora, 2013.
[5] Dezoito graus: Rio moderno, uma história do Palácio Gustavo Capanema. Lauro Cavalcanti. RJ, Língua Geral, 2014.
[6] Le Corbusier and the headquarters of the Brazilian Ministry of Education and health 1936-1945. Elizabeth Davis Harris. University of Chicago, Illinois, 1984.
[7] Le corbusier: riscos brasileiros. São Paulo, Nobel, 1987.
[8] Renascença nos trópicos. Edward Anthony Riedinger. SP, Jornal da Tarde, 7 de setembro 1991.
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