Veja abaixo o projeto do escritório Bernardes + Jacobsen , finalista do Concurso Internacional para o Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro. Para mais informações sobre o concurso clique aqui.
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Memorial Descritivo
“Nossa arquitetura para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, MIS-RJ, é a do objeto-lugar, híbridos. Interagem de tal modo o meio construído e o natural, os domínios público e o privado, que as qualidades de um e de outro se transformam mutuamente, provocativas, fundindo-se em zona mista de extrema riqueza simbólica e funcional.
A arquitetura do museu, assim, é indissociável do lugar, ao mesmo tempo em que a cidade adquire novos significados pela interface surpreendente que estabelece com o objeto edificado.
Negamos, com o partido fragmentado, o limite rígido e excludente praticado neste trecho da orla entre os espaços públicos e os privados. Copacabana, Botafogo e o Centro são exemplos de bairros que se desenvolveram aos moldes da verticalização moderna do tipo cidade-quarteirão, a do Plano Agache da década de 1920 no Rio de Janeiro, que, se por um lado trouxe benefícios em termos da uniformização da morfologia do beira-mar, por outro, privatizou o espaço aéreo das construções, a fruição privilegiada da natureza onipresente.
Propomos, ao contrário, a implantação não linear, a interiorização do semi-público para além dos limites restritivos das calçadas, horizontal e verticalmente, na medida das potencialidades do programa. Para isso, nos valemos da setorização em blocos relativamente autônomos, embora inter-relacionáveis, procedento sua cuidadosa organização no espaço a fim de criarmos os fluxos e locais estratégicos de transição que qualificam o projeto.
Empilhamos o museu na forma icônica de um corpo estranho, primitivo, capaz de induzir novas visuais e enquadramentos pelo simples posicionamento do visitante em ângulo oblíquo ao mar, assim como de tornar arquitetura e cidade permeáveis, híbridas, pela ruptura da lógica frente e fundos, dentro e fora do lote.
Com isso, pretendemos incrementar o fluxo tangente da linha da praia, do calçadão e do sistema viário, oferecendo-lhe novas possibilidades de permanência no local. Diversificar e reter, em síntese, observadores ou visitantes ocasionais e intencionais do museu, em decorrência de espacialidade instigante inserida em meio à cidade consolidada.
Volumetria e materialidade
A forma do edifício, portanto, decorre de diretrizes específicas:
. Fragmentamos volumes para romper com a linearidade passiva do beira-mar e para gerar possibilidades múltiplas de uso cíclico, diurno e noturno do museu;
. Os empilhamos desalinhados a fim de multiplicar os espaços de transição que se oferecem à permanência e à contemplação;
. Geramos, em decorrência, praça triangular no térreo, que interioriza o domínio semi-público e torna o conjunto edificado permeável ao entorno;
. Facetamos os blocos para criar enquadramentos inusitados da paisagem, como os que apontam, desde as varandas internas das salas expositivas, para a extremidade sul da praia de Copacabana;
. Nos apropriamos da empena do edifício vizinho a fim de transformá-la em suporte para uma monumental parede verde;
. Induzimos o percurso vertical, de cima para baixo, tendo como possível ponto de partida o privilegiado terraço do restaurante.
E, neste processo, estivemos inspirados pelo embate característico de Copacabana entre o natural e o edificado. Neste bairro em especial, os morros são de fato parte constitutiva da cidade urbanizada, terminando várias de suas ruas ao pé de elevações naturais.
Um tipo de relação em que não há vencedor ou vencido, em que natureza e construção dialogam de igual para igual, permanentemente, e a qual pretendemos resgatar com nossa arquiteura. Recuperamos portanto, simbolicamente, na forma e na simplicidade do material, a geologia da cidade, a presença marcante de suas pedras e morros.
Lapidamos suas arestas, setorizamos engenhosamente suas faces cegas e envidraçadas, testamos aproximações e proporções de forma a sugerir o primitivo – no sentido de original e pertencente ao lugar -, em meio ao sofisticado cenário de significações contemporâneas. Das quais pretendemos nos apropriar através da sensibilidade do corpo estranho, icônico, da nossa arquitetura para o MIS-RJ.”
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Ficha Técnica
Projeto: Bernardes + Jacobsen Arquitetura
Arquitetos: Thiago Bernardes e Paulo Jacobsen
Equipe arquitetura: Bernardo Jacobsen, Edgar Murata, Daniel Vanucchi, Frederico Escobar, Marcela Siniauskas, Fernanda Maeda e Henrique Bernardino.
Engenheiro colaborador: José Luiz Canal
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Agradecemos ao escritório Bernardes + Jacobsen pela disponibilização do projeto.
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Gosto do conceito de negação ao entorno repetitivo da orla, adorei o pórtico criado, achei terrível o estacionamento subterraneo, esse programa nunca deveria pedir estacionamento, o automóvel fica de intruso na edificação, o local é de fácil acesso, e tem treansporte pra praticamente de toda a cidade. Penso que se o estacionaento fosse posto de lado ganhariam. A empena verde… gosto muito tb!
Claramente os Arquitetos mostraram o domínio conceitual sobre o concurso usando de fundamentos consistentes para explicar a poética arquitetônica que deveria ser proposta na ocasião. Acredito que sua falha maior foi no mal uso dos vazios internos e a tímida comunicação entre as partes do projeto. Os cortes não surpreendem, a circulação vertical se encolhe reprimida na borda. O conceito! Esse está evidente nas relações das volumetrias e na praça triangular no térreo as fachadas transparentes (voltadas pra dentro do lote) dá à entender uma tentativa de diálogo entre os blocos. A arquitetura contemporânea deve ser envolvente e envolvida, suas partes devem ser únicas e cúmplices, a arquitetura foi deixada no térreo.
Bernardes e Jacobsen despontam mesmo. Eu gostei do projeto, ao contrário do que falaste bruno, acho que foi o que melhor compreendeu o entorno. A enpena transfornada em parede verde realmente nao faz muito sentido, apesar de que, como cenário, é melhor que uma empena com revestimento.
Todavia, o conceito público-privado, entorno-interno estão excelentes, obra-contraste, enfim, o conceito em relação ao local estão bons, mas o conceito do ícone que será essa obra ficou devendo. Não há descrição significativa do programa em si nem do que significará o museu de fato. O potencial intrínseco do próprio título de Museu da Imagem e Do Som não foi bem explorado, ou foi pouco explorado. O que ficou devendo foi isso, eu acho.
Concordo com o comentario acima. Na minha opinião nao parece nem mesmo um projeto dos caras. Sem contar que ficou algo pesado, bruto, e nao se harmonizou com o “clima” do bairro. É como se o projeto negasse todo o calçadão, a praia, toda Copacabana e se fechasse em si.
Sei lá, achei que pra Copacabana nao serviu.
Partido bem resolvido, ou melhor, bem justificado. Concordo que a rigidez morfológica – leia-se chatice tipológica – na orla de Copa pede (ou implora) pela fragmentação do partido arquitetônico.
Não entendi como prática a separação quase completa em dois blocos, pouco funcional. Tenho algumas dúvidas se o formato da sala de projeções multidirecional é o mais adequado, mas confesso minha ignorância na área…
Não gostei muito da apropriação da empena vizinha para disposição de uma parede verde, achei meio nada a ver, um toque de sustentabilidade “fake”. Herzog & DeMeuron fizeram parecido em Madrid, no CaixaForum, lá a coisa funciona melhor.
Gostei mais do projeto vencedor, porém, continuo fã confesso da arquitetura dos caras. Convido a críticas as minhas críticas.
Abraço.