Concurso Praça do Natal – RN
Menção
Celso Vinícius Sales, Gustavo Miranda, Paulo Siqueira Campos
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Memorial Descritivo
“(…) e eis que a estrela, que tinham visto no Oriente
ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre
o lugar onde estava o menino. E vendo eles a estrela,
regozijaram-se muito com grande júbilo”
(Mateus 2:9,10)
O projeto busca estabelecer uma analogia entre dois acontecimentos históricos, ao unir a história do cristianismo e a história da cidade de Natal, a fim de criar uma alegoria ao caminho percorrido pelos Reis Magos no deserto da Judéia, enquanto seguiam o rastro da estrela-guia por ocasião do nascimento da Luz do Mundo e, de outro lado, ao trajeto dos colonizadores do século XVI, descendo as águas do Rio Potengi e, no encontro com o Oceano, edificando o Forte dos Reis Magos, marco arquitetônico e simbólico da fundação da “Terra de Poti”. Momentos históricos caracterizados por inúmeras referências visuais, remetendo a linhas que conduzem a um ponto focal.
Através dessa analogia – e analisando in loco a espacialidade da atual praça, sua relação com o entorno e a cidade -, o partido arquitetônico proposto utiliza 3 elementos compositivos: o Eixo estruturador, que percorre a diagonal do terreno; o Marco, ponto focal e referência à “árvore natalina”; e a grande Cavidade, que abriga e enaltece o Marco.
O eixo concretiza-se por uma passarela que tem início na esquina do terreno, ladeada por uma via de importante hierarquia para a cidade , atravessa a Praça a 4 metros de altura em sua maior diagonal e conduz ao ponto focal do projeto. Agregaram-se valores lúdicos às suas funções de acesso, passagem e contemplação do ambiente mediante o uso de painéis luminosos que representam, cronologicamente, os percursos histórico e cultural da cidade. Três prismas de luz simbolizando os Reis Magos, – que recebem e introduzem os visitantes à Praça – marcam o início da linha d’água que escorre paralelamente ao percurso, eleva-se em jatos espaçados e deságua no espelho que circunda e penetra a torre.
Posicionado no final do eixo, encontra-se o Marco, cuja forma originou-se a partir da releitura da árvore natalina, reduzindo-a a sua forma cônica elementar. A “extrusão” de seu triângulo básico gera um prisma de base quadrada, cuja face inclinada é a planificação da superfície luminosa das árvores de Natal. As luzes – traço fundamental do espírito natalino, normalmente trabalhadas como meros elementos decorativos e acesas somente neste período – assumem no projeto um significado mais amplo através da aplicação, em toda a superfície frontal, de uma grande malha de leds: visualmente, permitem a composição de cores, formas e imagens quase infinitas e em alta definição, tanto no período natalino quanto em outras épocas do ano, adaptando-se a diversas necessidades programáticas. Esta face, complexa e significativa, abandona o tradicional brilho plano e estático e gera um novo espaço, virtual e etéreo, explorando a mutabilidade da forma – tendência na arquitetura contemporânea – e potencializando a conexão emocional entre o observador e a arquitetura. No espaço interno da torre, diluídos na expansão e sobriedade do recinto, a luz zenital e o som das águas geram uma atmosfera solene e meditativa para a contemplação do símbolo escultóreo – tributo ao nascimento de Cristo e da Cidade -, posto sobre uma superfície de 12x12m, origem da malha projetual.
Baseado ainda nesta malha e aproveitando a variação de cotas do terreno, a cavidade cria um “anfiteatro” recortado e envolvente, fortalece a leitura do conjunto, e concentra em suas margens todo o programa de necessidades. Lojas, bares, espaços de comercialização de artesanato e arquibancadas se abrem para duas áreas claramente distintas e setorizadas pelo eixo: a esplanada, ampla e multiuso, palco para apresentações culturais e artísticas e de onde se obtém uma visão integral da torre; e o espaço de convivência, área arborizada, íntima e acolhedora, suporte ideal às atividades comerciais, passeios e repouso. Largas escadarias e o declinar suave da calçada induzem o visitante a percorrer os possíveis caminhos, a contemplar a torre e adentrá-la: trajetos que exploram os sentidos, as emoções e o ludismo.
As vagas para veículos foram dispostas nas faces do terreno, exceto na extremidade inicial do eixo e na porção frontal da esplanada, permitindo ao visitante contato mais direto e fluido com a Praça. Além disso, afim de não comprometer a sua qualidade espacial, 38% das vagas necessárias foram dispostas no canteiro da Avenida Governador José Varela, uma vez que esta é uma via local e de pouco tráfego. Assim, evitou-se ocupar mais de 20% do lote com estacionamento – número obtido com base na legislação municipal. Rampas, a própria declividade da calçada e uma pequena plataforma de percurso vertical, disposta no interior da torre, interligam os espaços e os tornam acessíveis.
A valor da estimativa de custo do projeto é consequência do uso de tecnologia mais refinada e ainda pouco explorada no mercado nacional: painéis de leds para revestimentos de fachada têm-se difundido no meio arquitetônico graças à sua eficácia na propagação de imagens e à riqueza que confere ao cenário urbano. Diversas são as possibilidades de implantação e detalhamento, e somente um projeto mais específico fornecerá os números reais de tal empreendimento. Da mesma forma, os cálculos consideraram a estrutura do Marco em concreto maciço; projetos estruturais posteriores encontrariam a forma mais econômica e viável para a construção torre.
A Praça do Natal busca ultrapassar os limites da contemplação e do entretenimento. Sua arquitetura fornecerá bases para a afirmação da identidade natalense, projetando sonhos e anseios da população e iluminando novos caminhos para o renascimento cultural e tecnológico.
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Veja abaixo as pranchas submetidas ao concurso:
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Ficha Técnica
Arquitetura:
Celso Vinícius Sales
Gustavo Miranda
Paulo Siqueira Campos
Colaboradores:
João Paulo Carneiro
Zaz Oliveira
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Agradecemos aos autores pela disponibilização do projeto.