1° Lugar – Alexandre Sampaio

CUNICEUB – Centro Universitário de Brasília-DF

Local do projeto – Brasília – DF

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Memorial Descritivo

Apresentação

A história de Brasília é marcada, na visão de alguns autores, por uma  utopia surgida na ocasiao da concepcao de seu projeto ate sua construção. Para o deslocamento da capital, que funcionava na cidade do Rio de Janeiro, era preciso que o projeto de Brasília previsse generosas áreas residenciais, fossem para abrigar apartamentos ou casas individuais. Para estas destinações ficaram incumbidos os endereços `SQ`s (superquadras de apartamentos) e `SHI`s (setores habitacionais individuais, para casas). Embora parte dos edificios residenciais apresentassem opções de apartamentos considerados “pequenos”, de  50 até 90 m², é curioso notar que não há, no  Relatório do Plano Piloto de Brasilia, referências sobre como deveriam ser bairros ou áreas residenciais destinadas a moradias populares.

Após a escolha do projeto vencedor de Lucio Costa, Brasília comecou a ser construída, empregando um grande número de trabalhadores de baixa renda. Mesmo com os trabalhadores atuando, nunca houve deterninação de áreas que pudessem abrigar moradias para todos eles e nem para a família que porventura algum deles viesse a ter. Desta  maneira, surgiram, por força de uma necessidade forte e até natural, pequenas áreas espalhadas por todo o entorno da cidade planejada, abrigando todos aqueles que quisessem ter onde morar enquanto a cidade fosse construída e até após isso acontecer.

Estas áreas viriam a se consolidar como verdadeiros bairros populares, e embora não tivessem nenhum planejamento, tiveram que se adaptar ao crescimento constante do numero de moradores.

Desta maneira, os seguintes pontos serão levados em conta na proposta deste trabalho:

  • Considerar que se trata de uma área familiar;
  • Inserir itens que tragam qualidade ao espaço público;
  • Prever a existência de comércio, serviços, garagens, praças e equipamentos comunitários;
  • Prever áreas que possam ser construídas aos poucos;
  • Recuperar todo o curso de água existente  com vegetação adequada;
  • Considerar o adensamento;
  • Facilitar a implantação de Infra-estruturas urbanas;
  • Considerar outros trabalhos de mesma natureza como concursos de habitação social/popular;
  • Composição da nova área habitacional de maneira a atrair o uso de toda a população do Varjão fazendo assim a interação dos moradores antigos com os novos.

Histórico

Antes da construção de Brasília, no final da década de 1950, as terras do Varjão pertenciam à Fazenda Brejo ou Torto e estavam localizadas no município de Planaltina. As terras foram desapropriadas em favor da Terracap. Os primeiros loteamentos irregulares surgiram nas décadas de 1970 e 1980. O Varjão era considerado parte do Lago Norte até 2003, quando se tornou a Região Administrativa XXIII.

Localização     

O Varjão localiza-se no extremo sudoeste do Setor Habitacional Taquari – SHTQ, próxima ao Setor de Mansões do Lago..

Limita-se ao Norte e ao Leste pelo Setor Habitacional Taquari, ao Sul pela EPPR – Estrada Parque Paranoá e Ribeirão do Torto, a Oeste por Área Pública sem definição de projeto.

Do ponto de vista físico, localiza-se na borda da vertente escarpada da chapada da Contagem, tendo formato irregular condicionado pelos obstáculos naturais, escarpas e o ribeirão do Torto.

Área foco da Intervenção – situação       

Embora seja uma área de transição, sem asfalto ou qualquer pavimentação nas vias, as condições gerais de limpeza do lugar são muito boas (fotos 1,2,3 e 6) porque os moradores fazem uso regular dos containers para recolhimento do lixo. As águas pluviais correm a céu aberto.

As condições de limpeza do local podem ser drasticamente alteradas no período das chuvas comprometendo inclusive as casas do local e a segurança dos moradores.

Observou-se que a maioria das casas já possui água e esgotamentos funcionando. Quase todos os barracos possuem  cobertura de telhas de amianto mas as paredes, que não podem ser edificadas, são formadas por madeirites e outros materiais improvisados.

Na região a vegetação é ausente, a exceção são pequenas intervenções pontuais na frente de alguns barracos, onde alguns moradores plantam algumas parcas espécies.

E interessante salientar que muitas instalações elétricas são clandestinas.

Análise Crítica

Como se nota, a área é completamente desprovida de qualquer  planejamento, a não ser alguma organização das vias secundárias e distribuição dos lotes no terreno. Entretanto, o local ainda tem disponibilidade  suficientemente grande de áreas que podem ser programadas para receber circulação de veículos e pessoas, além de  comércio, serviços, áreas de  estar, um posto de saúde e uma creche, além de praça e alguns equipamentos comunitários;.

Em relação a vegetação, o espaço não apresenta qualquer espaço ou destinação para trabalhos de arborização, criação de praças ou parques. Felizmente, conforme relatado anteriormente, o espaço ainda pode ser distribuído de maneira a prever boa arborização, alem de criação de pequena praça.

A  parte oeste da área e margeada por um pequeno curso de água que alimenta o córrego principal da área , o Ribeirão do Torto. As imediações de tal córrego esta completamente desmatada, colocando em risco a sua existência. Porem, o mesmo córrego pode ter sua vegetação original  restabelecida e suas imediações transformada em áreas de parque, que atenderia a necessidades da população não só da área como também de todo o Varjão.

Em termos de comércio e serviços, o espaço é praticamente desprovido de qualquer instituição desta natureza. Porém, tipologias de edificações podem ser propostas de maneira a atender tanto necessidades de habitação como de comércio e serviços. Desta maneira, poder-se-ia propor edificações de no máximo 4 pavimentos, onde o térreo, configurado como “pilotis” seria destinado parcialmente a residências para portadores de necessidades especiais e o restante a comércio e serviços.

Tal configuração atenderia ainda a necessidade de residências de maneira mais racional, pois lotes para residências unifamiliares de apenas um pavimento ocuparia grandes espaços, além de encarecer serviços de esgoto e outra serie de benfeitorias que se mostram bem mais caras se comparadas a edificações verticalizadas. Além disso, a economia de espaços gerada por tal tipologia, permite propor áreas destinadas a posto de saúde e creche por exemplo, que  após entrevistas, se mostram necessárias no local. Por fim, uma proposta pode ser realizada, integrando a área com o restante da cidade.

PROPOSTA

A proposta tem o objetivo de manter as 180 famílias na mesma área onde já estão, porém com uma nova proposta de urbanização.

 Urbanização da área em questão

A área seria dividida em dois quarteirões pela via de circulação periférica. Cada um dos quarteirões apresenta um desenho que busca uma ligação com a configuração existente da parte da cidade adjacente. Tal ligação  se da através de eixos que ligam as praças já existentes as praças dos dois novos quarteirões. A proposta é que o curso de água existente seja recuperado e criado ali um parque com uma pequena porção pavimentada como área de estar com uma quadra poliesportiva, além de abrigar o ponto focal principal; uma escultura que “devolve“ o curso d´água à sua configuração original (corte AA).

Cada quarteirão e composto de 6 edifícios, com térreo destinado parte a residências e parte a comercio e serviços. Parte do térreo também e composto de pilotis que favorecerão a circulação dos pedestres. A parte exclusivamente residencial e composta de três pavimentos, sem elevadores o que  reduz custos. Cada edifício é composto de 18 unidades residenciais, distribuídas em três pavimentos superiores, sendo 6 unidades por pavimento.

No total, nas duas “quadras”, há 216 unidades habitacionais, de cerca de 65 m² cada uma. Pela proposta estariam atendendo à demanda das 180 famílias e ainda restariam livres 2 edifícios que poderiam atender a demandas futuras. Os apartamentos seriam propostos de maneira “flexível”, podendo ter de 1 a 3 quartos e também podendo ter varanda ou não, dependendo da necessidade dos moradores.

Nas áreas entre os edifícios em que não foram previstas vias, figuram espaços que atendem à comunidade em diversas de suas necessidades. Nos espaços maiores, foram localizadas escola e posto de saúde. Nos espaços menores, áreas multiusos, que atendem à necessidade de circulação e lazer na maioria do tempo e em dias como feriados, podem funcionar como áreas para feiras de diversas naturezas (ver corte BB).

Sobre a exploração da dimensão simbólica

Ao final de alguns dos eixos propostos está prevista a existência de elementos focais, em forma de esculturas que tem por objetivo fazer referência simbólica à história daqueles que construíram Brasília e foram esquecidos em sua necessidade básica de moradia. Além destes, a referência simbólica contemplaria ainda  aqueles que estão na cidade fugindo de alguma forma das condições sub humanas as quais viviam nos seus estados de origem.

Há a intenção  de resgatar a dignidade do ser humano e de alguma forma tentar reparar o equívoco do projeto para Brasília, que infelizmente, em sua forma final e implantada, não previu moradia para os  menos favorecidos.

 

Parecer do júri – Atingiu plenamente todos os critérios, destacando-se a legibilidade da proposta, adequação ao lugar, inserção e compreensão do contexto, objetividade e simplicidade no atendimento às demandas indicadas pelo local.

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Agradecemos ao autor pela disponibilização do projeto para publicação.