Menção Honrosa – Trabalho n° 2

Gabriela Silva Goedert, Carolina Sacchetti Tobias, Mariana Morais Luiz, Mariana Pereira Clemes, Maria Eduarda Scarsanella Miranda, Flávia da Silva França, Larissa Dal Bello Morasco

Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis – SC

Local do projeto – Florianópolis

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Memorial – Manisfesto ao Mar

Parque Urbano no bairro Abraão, Florianópolis

Contextualização de Florianópolis e Bairro Abrão

Área escolhida situa-se no bairro Abraão, na porção sul do Continente. O bairro faz divisa com os bairros Capoeiras, Coqueiros, Bom Abrigo, e também com São José, município vizinho. Constituído basicamente por um uso residencial e de comércio emergente, o bairro apresenta sua expansão urbana marcada pela construção da BR-282 e pela falta de saneamento básico. Em 1969, a ocupação territorial por residências no bairro Abraão não ultrapassava 20%, hoje, existem apenas 5% de área livre, e o que restou está ocupado por aproximadamente 5 mil moradores.

Embora os bairros vizinhos (Coqueiros, Itaguaçu e Bom Abrigo) tenham sistema de esgoto sanitário desde a década de 80, o Bairro do Abraão não possui um sistema canalizado e o mar ainda é o destino final dos dejetos produzidos e os moradores convivem com este grave problema de saúde pública. O mau cheiro da orla é vivenciado diariamente pelos moradores e pescadores da região, sendo o mais preocupante a intensa degradação ambiental que ataca todo o desenvolvimento daquele ecossistema.

Além disso, a desvalorização da orla é presente em quase todo o perímetro da região, diversos bloqueios de acesso à Orla do bairro podem ser pontuados, desde a existência de muros próximos ao mar até construções de alto padrão. Estes bloqueios impedem o acesso à orla, a conexão visual com o mar, o seu uso, mas principalmente invalidam seu caráter público, elitizando o que deveria ser acessível a todos. Essa discriminação espacial impossibilita o usufruto de uma vida saudável e civilizada para todos. Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina é compreendida pela Ilha de Florianópolis e por uma porção continental, onde localiza-se a área de intervenção proposta. Ao longo dos últimos anos, além de ser considerada uma das cidades brasileiras com maior qualidade de vida, a cidade se caracterizou como pólo turístico essencialmente por seus atrativos naturais. A realidade para grande parte dos moradores da capital, entretanto, é outra, já que a ausência de espaços públicos de lazer, de equipamentos culturais e a deficiente mobilidade urbana configuram o perfil de Florianópolis.

A perda do contato da comunidade com o mar não é uma deficiência por si só. A deficiência de espaços públicos de qualidade que valorizem o potencial da paisagem, de vias que atendam de maneira adequada os fluxos locais e a conexão com os demais bairros, além da falta de infra-estrutura básica para a crescente população do Abraão é, além de preocupante, um completo descaso com a história e a cultura do local. Este cenário acaba por negligenciar outras questões intrínsecas àquele lugar, questões culturais e folclóricas, como a pesca artesanal e a lenda das bruxas que se transformaram em pedra e pairam sobre o mar. Essa cultura tão rica ligada ao mar está se perdendo; espaços públicos de qualidade, de apropriação, de pertencimento, se fazem necessário para valorizar e garantir a perpetuação da cultura e identidade local.

Escolha da área de intervenção

O terreno escolhido para a implantação da proposta é uma área costeira limitada pela BR-282 – que atua como uma ruptura entre o bairro e o mar. Indicada no plano diretor como Área Verde Livre, a área totaliza quase 10 hectares, de frente para um denso condomínio de baixa renda. Subutilizada, a área escolhida caracteriza-se como um vazio natural e urbano, estrangulada pelo precário caráter estruturador, que além de sofrer com a carência de legibilidade, planejamento urbano e degradação ambiental, não tira proveito de sua função social de espaço público de uso livre, lazer, convivência e contemplação. Além disso, o imensurável valor ambiental representado pela sinuosa orla marítima e nicho ecológico, encontram-se ameaçados pela especulação imobiliária e poluição da região. A escolha desta área reflete a importância de projetos capazes de reintegrar o território e priorizar sua função pré-estabelecida, através da recuperação de áreas degradadas ambientalmente, a fim de garantir a disponibilidade dos recursos naturais para sua população. As evidentes potencialidades da área também foram essenciais para a escolha, assim como a topografia e a paisagem.

Diretrizes

Originalmente, o nome do Bairro Abraão era “Abrão”, devido a sua ampla abertura de mar. Historicamente usado como local de recreação popular entre os moradores da cidade, hoje, esta relação está esquecida e ignorada. O mar se tornou privilégio de alguns, e além de um importante personagem da história e cultura local é um grande contribuinte para a beleza natural da área, que não é evidenciada nem sentida e nem ao menos vista. Tem-se como principal diretriz projetual retomar e reaver o valor do mar como berço do bairro, precursor das relações sociais e cenário histórico e folclórico. A abertura do espaço, a ampliação do olhar, e o reconhecimento da presença do mar é crucial para (re)introduzir um sentimento de pertencimento e familiaridade com a água, com o meio natural e com a identidade local, transformando o mar num manifesto público e notório.

Proposta

A fim de revelar a natureza, valorizar a paisagem, e a inserção da comunidade, o parque foi projetado a partir dos visuais e das sensações esperadas aos usuários que serão acolhidos, surpreendidos, direcionados e redirecionados, a todo instante, num espaço que foi desenhado para ser transformável, mutável e livre.

Buscou-se implementar equipamentos de esporte e lazer, além de deques e circuitos que ora se viram para o próprio parque, ora se viram para o mar, lançados próximos à água com o intuito de estimular e despertar a percepção do usuário para este ambiente natural. Foram implantados pista de skate, espaços de estar, quadras poliesportivas, espaços de contemplação, com o uso de diferentes materiais e pisos variados, que aliam a permeabilidade do solo a possibilidade de uso livre, que direcionam os usuários para diferentes eixos e nichos, e que os convidam a usufruir aquele ambiente renovado. Desta maneira, o parque desenhou um lugar que por si só oferece possibilidades para o exercício da cidadania, através de um ambiente que educa, que cria, que permite o desenvolver de sensações e sentimentos, que enfatiza a liberdade ao usuário, que incorpora sua imageabilidade e que representa o direito de todos ao meio natural e suas conseqüentes belezas.

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Agradecemos aos autores pela disponibilização do projeto para publicação.