A Ópera de Oslo, na Noruega, projeto do escritório Snohetta, é um dos finalistas para o Prêmio Mies van der Rohe 2009
(atualização: em 29.abr.2009 o projeto foi anunciado como vencedor do referido prêmio)
O projeto é resultado de um concurso internacional realizado em 2000, que atraiu 240 inscritos de todo o mundo (o maior concurso realizado até então na Noruega). O edifício, com área construída de aproximadamente 38.500 m2, custou 750 milhões de dólares (cerca de 20.000 dólares / m2).
Um dos arquitetos responsáveis, Craig Dykers, destaca que a Ópera é um monumento que procura envolver os visitantes e ocupantes não apenas como objeto arquitetônico, mas também como proposta urbanística: “trata-se de um monumento social, uma experiência holística, em que a memória do objeto inclui a jornada, tanto quanto o destino”. Sob o ponto de vista arquitetônico, o caráter cívico é alcançado por meio de uma resolução inteligente dos espaços de teatro, distribuição pragmática do programa, o mínimo de diversidade de materiais e formas externas provocativas.
Além de espaços para os espetáculos, o programa da ópera inclui áreas para cerca de 600 funcionários da área técnica, oficinas, salas de ensaio, academia de balé, além de escritórios administrativos. Apesar da densidade programática, os arquitetos conseguiram manter espaços bem servidos de iluminação natural e, quando necessário, ventilação natural, incluindo grandes panos de vidro e jardins internos em algumas áreas.
” A parede de ondas”
A península de Bjorvika e a cidade portuária são os pontos de encontro entre a Noruega e o mundo. Para marcar a transição entre a terra e a água, entre a Noruega e o resto do mundo, entre a arte e o cotidiano, os arquitetos definiram paredes curvas que se destacam no interior do edifício e que marcam o encontro simbólico entre esses dois universos: onde o público encontra a arte.
“A fábrica”
Sobre o aspecto funcional, os arquitetos propuseram uma organização espacial que permitisse o desenvolvimento das atividades técnicas, de produção e apoio de forma racionalidade, como em uma fábrica. Os espaços deveriam, portanto, ser ao mesmo tempo funcionais e flexíveis. Essa premissa do projeto foi útil durante a fase do desenvolvimento: as diversas demandas de mudança do empreendedor foram implementadas, sem prejuízo à proposta arquitetônica geral, em função da flexibilidade original do projeto.
“tapetes e superfícies”
O programa do concurso solicitava uma proposta de alta qualidade arquitetônica, que deveria ser monumental em sua expressão. A fim de conferir uma monumentalidade que pudesse ser legitimada pelo público, os arquitetos procuraram formas que permitissem o máximo de apropriação possível do edifício pelos usuários. Daí a idéia de um grande tapete horizontal e superfícies inclinadas sobre o edifício. A monumentalidade, neste caso, foi obtida pelas extensões e articulações horizontais do conjunto, e não pela verticalidade.
A base conceitual da proposta apresentada no concurso era a combinação desses três elementos: o simbolismo da parede de ondas, a flexibilidade da fábrica e a monumentalidade dos planos horizontais e inclinados.
Situação urbana
A Ópera de Oslo é o principal elemento do projeto de transformação recente da cidade. A idéia é que em 2010 a malha viária que margeia o complexo seja substituída por um túnel, permitindo maior integração entre a cidade e o complexo cultural (vide imagem acima, que indica a implantação urbana do conjunto).
Colaboração com artistas
O escritório Snøhetta tem uma tradição de parcerias com artistas em seus projetos. Na fase inicial do concurso, artistas foram convidados como colaboradores. A idéia era evitar “adições artísticas” posteriores ao edifício, como artifícios de decoração. Trazendo a discussão dos elementos artísticos para a fase de concepção do projeto, por meio de diálogo com aristas e artesãos, o edifício incorporou no próprio conceito arquitetônico os valores simbólicos das obras de arte, dispensando elementos decorativos posteriores.
Escolha de materiais
Os materiais, com seus pesos específicos, cores, texturas e temperatura, são objeto de atenção especial nos projetos do Snøhetta. São os materiais – e todas as suas propriedades – que definem os elementos do espaço. No projeto da ópera três materiais básicos foram especificados desde o início: pedra de coloração branca para os planos horizontais; madeira para a “parede de ondas” interna e metal para os elementos da “fábrica”. Cada elemento conceitual do projeto é associado a um tipo de material. Durante o desenvolvimento do projeto, um quarto elemento é utilizado como articulação entre os demais: o vidro.
A pedra escolhida foi o mármore italiano La Facciata. Trata-se de uma pedra que, assim como outros mármores, mantém seu brilho e cor, mesmo quando úmida. A área total de revestimentos nessa pedra é de aproximadamente 18.000m2. A idéia é que o material oferecesse a necessária neutralidade à distância, a fim de não interferir na idéia geral do edifício, porém que ganhasse detalhes à medida que observado de perto. Todo o estudo de paginação, cortes e texturas foi desenvolvido em conjunto com os artistas colaboradores.
Madeira
O carvalho foi escolhido como material dominantes das “paredes de onda”, assim como do interior do auditório principal. Além das paredes, a madeira é utilizada em diversos espaços no piso e no forro, principalmente quando há necessidade acústica. O hall tem uma forma orgânica que, além do aspecto formal e simbólico, tem funções de desempenho acústico. Para garantir o esperado desempenho acústico, as paredes são formadas de elementos de madeira de pequena dimensão, conferindo a rugosidade necessária para a absorção do som.
Os espaços referentes às áreas de apoio (a “fábrica”) são todos revestidos externamente por painéis de alumínio, que também foram pensados em suas qualidades técnicas e possibilidades artísticas. A idéia era combinar durabilidade e estética. Os artistas também colaboraram no estudo de paginação e textura dos painéis de alumínio, a fim de conferir qualidade visual aos volumes, sem afetar a unidade do conjunto. Assim como no caso das pedras, foram estudados efeitos no detalhe dos painéis, visíveis à medida que as pessoas se aproximam dos objetos.
Vidro
A grande fachada de vidro (até 15 metros de altura) entre o foyer e os planos inclinados do exterior definem as visuais do edifício em direção ao sul, oeste e norte. Além da função de transparência, durante o dia, o grande pano de vidro funciona como fonte de luz para os planos e superfícies exteriores, à noite. A fim de minimizar a estrutura metálica de suporte à esquadria, os arquitetos idealizaram elementos de fixação colocados entre as lâminas que formam o sanduíche de vidro.
Organização espacial
O edifício é dividido em dois por um corredor que se desenvolve de norte a sul, como uma “rua interna”. À esquerda desse grande corredor estão situados os espaços de público e à direita, as áreas de apoio e produção. Além do pavimento de acesso existem 4 pavimentos acima do solo e o equivalente a 3 pavimentos para baixo.
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Ficha Técnica:
Architetos: Snohetta
Local: Bjørvika, Oslo, Noruega
Cliente: Ministério para Assuntos Culturais e Religiosos
Área: 38.500sm2
Início da Construção: 2004
Conclusão: 2007
Estruturas: Reinertsen Engineering ANS
Projeto Cenotécnico: Theatre Project Consultants
Acústica: Brekke Strand Akustikk, Arup Acoustic
Artistas: Kristian Blystad, Kalle Grude, Jorunn Sannes, Astrid Løvaas og Kirsten Wagle
Fotografia: Snohetta, Nina Reistad, Statsbygg, Erik Berg & Nicolas Buisson
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Fonte: archdaily.com
Uma proposta urbanistica desvincula o espaco urbano da agua? Nao vejo relevancia em avaliar de onde foram tiradas as imagens… Como posso ver nas fotos, a multidao de pessoas utilizando o local comprova como foram bem sucedidos os arquitetos responsaveis pela obra. O projeto alia o espaco construido com o espaco aberto, de modo a criar um novo local de interacao e socializacao entre individuos. Ou seja, qualidade de vida. Quanto a qualidade formal e espacial, esta é indiscutivel.
De fato. Trata-se de um excelente projeto, que reflete bem a qualidade dos projetos do escritório Snøhetta. Em breve publicaremos aqui no portal outros projetos para essa mesma região de Oslo, e que também foram objetos de concurso.
Vale salientar que as imagens apresentadas no portal são apenas uma síntese do projeto e não são capazes de traduzir todo o conceito do projeto. Uma análise mais aprofundada releva todas as preocupações mencionadas pelos autores e a qualidade da arquitetura.
Curioso. Se o importante é ver o edifício como proposta urbanística, como defendem os autores, por que nenhuma foto foi tirada da “frente” do edifício? Só vemos fotos tiradas da água…
Belíssimo projeto!!!
Um trabalho meticuloso e ousado que nos mostra o quão feliz pode ser o resultado do trabalho com parcerias, sejam artistas ou técnicos.
Um trabalho fantástico.