O ano de 2010 se encerrou com a notícia de que o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) foi finalmente aprovado, o que significa dizer que os arquitetos e urbanistas agora têm um conselho profissional próprio (na prática, o CAU começa a existir somente após 1° de janeiro de 2012, quando todos os conselhos regionais e o nacional estiverem funcionando, com seus dirigentes eleitos).
São diversas as expectativas que decorrem da criação do CAU, instituição que terá como função, entre outras, “pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da arquitetura e do urbanismo” (de acordo com o texto da Lei que foi sancionada no dia 30 de Dezembro de 2010 – Art.25, Parágrafo Primeiro) e à qual compete (Art.29) – “zelar pela (…) valorização da arquitetura e do urbanismo”.
O CAU assumirá as funções de regulamentação da profissão do arquiteto e urbanista, até então sob o controle do sistema CONFEA/CREA, o que pode trazer alívio ou inquietação, a depender da perspectiva. Em princípio, será mais fácil valorizar a arquitetura e o urbanismo e promover o necessário diálogo com a sociedade e os profissionais em um universo institucional mais particular, específico da profissão. Por outro lado, teme-se que o CAU herde os mesmos vícios, entraves e rotinas cartoriais que são criticados no sistema CONFEA/CREA. Neste caso, seria uma mudança de sigla, sem mudança de cultura. Pessoalmente, acredito (ou desejo) que o Conselho será um passo importante para a necessária promoção da “qualidade da arquitetura” (e junto, como causa e ao mesmo tempo conseqüência, a valorização da profissão). Mas isso não ocorrerá naturalmente. Ao contrário, o “movimento natural” tende a nos levar ao “sistema cartorial”, a uma instituição acrítica e indiferente à função social da arquitetura e do urbanismo.
Enfim… diante das dezenas de possíveis expectativas, cobranças, dúvidas e sugestões em torno do CAU, a que apresento neste momento é: qual o lugar dos concursos de arquitetura e urbanismo na agenda de criação, consolidação e atuação do CAU?
Alguns leitores podem estar se perguntando: o que concursos têm a ver com o CAU?
Se a perspectiva para o CAU for a limitação ao sistema cartorial de regulamentação da profissão, à cobrança de anuidades e de registro de ARTs, de fato, não há lugar para se discutir concursos no âmbito CAU, ou sob o seu apoio. Por outro lado, se seguirmos “ao pé da letra” o que diz a Lei de criação da instituição, que deveria “pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da arquitetura e do urbanismo” e “zelar pela (…) valorização da arquitetura e do urbanismo”, neste caso, não tenho dúvidas: promover a regulamentação e a obrigatoriedade dos concursos de arquitetura e urbanismo na contratação de projetos pela administração pública deveria ser um item obrigatório na agenda da nova – e tão esperada e celebrada – instituição.
O IAB eventualmente é criticado por fazer pouco pelos arquitetos e urbanistas, pela ausência de ações mais concretas e efetivas de promoção dos concursos… Ainda assim, 8 de cada 10 concursos públicos de arquitetura realizados a cada ano no país são organizados pelos IABs. O problema – entre outros – é que o IAB é uma instituição sem recursos, sem estrutura, que depende do voluntariado. Vamos aos números: se um Departamento do IAB tiver 200 associados em situação regular (situação rara, alcançada por poucos Departamentos do IAB no Brasil), a receita mensal média será de R$ 4.000,00. O que se paga com esse valor? Um funcionário de Secretaria, o aluguel de uma sala e despesas de água, luz e telefone? Como promover a valorização da arquitetura e do urbanismo no país sem recursos e sem estrutura?
O CAU, ao contrário, nasce como uma instituição “milionária”. Sem considerar os valores decorrentes das ARTs, vamos contabilizar R$ 350 de anuidade que serão pagos (compulsoriamente) pelos 80 mil profissionais que atuam no país (além dos 6 mil que se formam a cada ano nas mais de 220 escolas espalhadas em todo o país): o resultado será uma receita de no mínimo R$ 27 milhões por ano para o CAU. Em resumo: não será por falta de recursos financeiros.
Enfim, neste momento – oportunamente embalado pelas celebrações do Ano Novo – a criação do CAU é festejada. Sim, deve-se celebrar, festejar, afinal são anos de trabalho de arquitetos e urbanistas que voluntariamente têm atuado em todas as instâncias necessárias pela aprovação do tão esperado Conselho. Mas sem querer causar indigestão aos futuros dirigentes desta nossa nova instituição, uma pequena lembrança, que se confunde com um pedido, ou com votos de Ano Novo: que o CAU esteja a serviço da promoção da qualidade e da função social da arquitetura e que atue pela promoção dos concursos de projeto como instrumentos democráticos de contratação de projetos na administração pública.
Feliz 2011 !!
editor – concursosdeprojeto.org
É isso aí, agora temos que vencer nossos egos arquitéticos e aprender a nos unir pra que nossa classe possa evoluir profissionalmente!!! e criemos uma base solida moral pra termos pleno aval da sociedade.
Fernando, me ocorreu; você não seria aquele com quem conversei sobre este assunto, com mais uma colega, tomando uma cervejinha na Praia do Forte? E que depois sumiu, num diálogo estendido por e-mails?
Fernando de que? Eu e certamente os demais leitores deste ótimo espaço gostaríamos de saber com quem ‘lidamos’.
Abs e tome tudo com bom humor.
No final dá tudo certo, nem que seja sete palmos abajo, nos finalmentes derradeiros.
Fernando,
é verdade. Eu escrevi demais. Também foi ‘excesso de coragem’ (já prevista, por isto falei de ‘risco’), pois não editei o texto e a clareza talvez decorresse de edição, com argumentos aceitáveis ou não, a depender dos valores de quem julga (procurei expor os meus).
Em suma, acho que o urbanismo não é a mesma coisa para diversos profissionais que lidam com o fenômeno urbano.
E a ‘união arquitetura + urbanismo’ no âmbito restrito da atividade do profissional arquiteto-urbanista não pode e não tem que dar resposta para todo tipo de questão urbana (ela envolve, de diversas formas, praticamente todas as profissões, hoje, ‘urbanas’). E isto não invalida uma abordagem interna à arquitetura-urbanismo e limitada a alguns aspectos da realidade urbana.
Mas para isto é preciso distinguir projeto de obra. Pois a ‘obra urbana’ não cabe somente ao que se pensa num projeto e, assim, não cabe a somente arquitetos-urbanistas, já o projeto cabe.
(se a formação do arquiteto-urbanista não deve dar ênfase ao projeto, os cursos devem mudar; eu acho que faltará um tipo de profissional que ainda nem temos a contento – piorando as coisas; dada a confusão que se faz especialmente quanto ao urbanismo em nossas FAUs)
Quanto ao CAU, que venha o melhor, mas não vamos pecar por excesso de confiança e ingenuidade.
Este talvez seja o modo de construirmos o melhor CAU possível.
Otimistas, porém vigilantes.
Confuso você aí acima.
Seu argumento confunde a você mesmo. E vamos lá! Um pouco de otimismo em relação ao CAU não fará mal a profissional nenhum.
Abraços
Caro Palazzo,
eu tinha lido o texto que indica e pensado em comentar, mas não aqui. Você me deu o ensejo. Aí vai ‘mais uma reflexão’ (rsrsrs). Fiquei na dúvida se publicava, mas eu gosto de correr riscos…
Duas palavras explicam muito neste artigo que nos sugere Palazzo: exclusividade e falácia.
É uma falácia a vinculação exclusiva do urbanismo e da arquitetura, não só pelos motivos alegados, mas, antes, porque é uma falácia ter nisto uma questão tal como se coloca.
Por mais que se fale do assunto, nos termos imprecisos e muito abarcadores em que se fala – o que é já o erro ‘de partida’ -, mesmo que se tenha pretendido um dia, que se pretenda ainda – a despeito de confusões nos discursos que nos apresentariam tais pretensões, o que as invalida e não deveria suscitar reações (e lembremos a lição histórica de que discursos têm suas circunstâncias) -, não está efetivamente caracterizado que arquitetos proponham uma ‘fusão’ entre arquitetura e urbanismo nos moldes em que entende a autora do texto (a recorrência na menção – ultrapassando esta autora – a uma tal fusão não ‘cria a verdade’) e, mais fundamental, arquitetos não têm o poder que se teme aqui. Nunca tiveram e nunca terão. Podem até pretender ‘legislar’ neste sentido, mas, se lograrem, darão com os burros n’água. O urbanismo, como o toma a autora, não está ao alcance de nenhum saber específico em exclusivo (nem o mencionado, já compondo uma formação existente, no caso da UNEB; que a autora ‘defende’; sobre isto, pergunto: qual seria o produto do trabalho deste urbanista, objetivamente falando e como efetivo fruto de sua formação? O conhecimento sempre vale, mas compondo a formação, a habilitação, espera-se uma regularidade no produto do trabalho deste que, assim, se ‘profissionaliza’, seja lá em que moldes).
A questão é que arquitetos (projetistas) e não arquitetos ‘se misturam’ sem se darem conta (me refiro a arquitetos-urbanistas, em nossa formação dita dupla).
Por um bom tempo, num passado meio distante, praticamente “tudo era arquitetura” para ditos arquitetos e não arquitetos (e isto era mais uma ‘licença poética’; quando não, mera autodefesa em ambiente pouco propício), chamados então, todos, arquitetos (o que continua e em contexto bem mais complicado). Ora, isto criou armadilhas para incautos históricos (precisaremos pagar por gerações… porque, para muitos, arquitetura e urbanismo tratam – e são – de coisas deveras indefinidas ou por demais abrangentes – vide o emprego freqüente da expressão “generalista”).
A ‘causa’ do artigo é uma falsa questão, porque ela não é colocada nos mais justos termos. O urbanismo que pode interessar mais exclusivamente (mas nunca totalmente) aos arquitetos (os projetistas) e à arquitetura/urbanismo que está mais no limite de arquitetos-urbanistas que projetam (não a arquitetura/urbanismo em si, produto mais ‘social e coletivo’) é, na verdade, o projeto: arquitetônico (que não é ainda arquitetura, mas sua hipótese simulada) e o projeto urbanístico (idem). Melhor dizendo, projeto arquitetônico-urbanístico-paisagístico (recuperando as projetualidades que se conhece; históricas, claro) ou somente projeto (palavra usada quando o mundo era mais simples).
É meio absurda, mas esta confusão é entranhada. Confunde-se projeto com arquitetura feita.
Podemos até trocar as palavras, no jargão, num discurso ‘mais interno’, mas não podemos trocar as coisas que elas nomeiam. Mas, pasme, tal erro está entranhado em nossas esferas tidas como as mais cultas, as que mais seriam capazes justamente de pensar e de modo sistemático: academia, pesquisa e pós-graduações (com suas repercussões em outros âmbitos). Isto, porque, mais do que tudo, a academia é um sistema de títulos e cargos.
Ainda que de modo diverso, mas ‘associado’, o mesmo acontece com o urbanismo (quem quiser, chame de desenho urbano, tudo bem, esta não é minha questão aqui); diante dos urbanismos (multi-disciplinares; não cada um, mas por serem vários; o urbano então resultará de perspectivas diversas frente à realidade/totalidade e não tão somente do que forja o âmbito dos conceitos e das representações, mesmo em todas e cada uma as disciplinas; teoria, numa palavra; pois como já se diz: “a teoria, na prática, é outra coisa”).
Ocorre então que uma palavra quase não citada no texto indicado muda tudo aqui: projeto. Com ela, mais outra: projetualidade (esta muda as coisas mais ainda; mas é pouco praticada – Elvan desça a terra! Boudon, Conan, nos ajudem!).
Ainda, na interface entre a virtualidade do projeto, de um lado, e a concretude da arquitetura realizada e do espaço urbano mais ‘total’, ‘real’, de outro, há uma ‘palavra intermediária’: morfologia (chamem De Paule, mas também o atualizem).
O ponto de vista que norteia este texto citado por Palazzo é do tipo daquele que gosta de ‘contar história’, mais do que pensar com ela (ainda que procure fazer isto, não nego). Fruto de uma posição acadêmica (atual, mas remetida ao passado, sob vários aspectos; autoritária e historiográfica) diletante e já vetusta (diferenças fundamentais entre ciências humanas/sociais e exatas, ainda nos mostram muito aqui). Uma abordagem que não problematiza questões, mas discursos. A história morta (reverencial), aqui se faz rainha. Exemplo: usa-se a expressão projeto (pouco) sem problematizar o projeto. E sem este conceito – embora mais entranhado do que dito, até pelo próprio – verdadeiramente não se entende Le Corbusier (ainda que tenhamos os ‘5 pontos’, numa explícita remissão; mas é preciso ultrapassar a circunstância…); instrumento da argumentação ativada no artigo recomendado.
É preciso superar temas (ah, a historiografia! gostosinha, mas, não raro, ‘ordinária’) para ultrapassá-los. O urbanismo que esta crítica ainda refere é um cachorro morto já. As suas ameaças atuais provêm de práticas, mais do que de pensamento (que tanto é ignorado pelas práticas; quando publicitários assumiram o poder, ditando o ‘seu pensamento’ – digno desse nome?); portanto não há epistemologia aqui, somente ‘num possível segundo momento’, a aprofundar (o que requer especificidades; em situações, circunstâncias e… metodologia; se projetual, tome projetualidade). Porque este pensamento não existe, ainda patina remoendo velhas questões e se diverte com ‘histórias’.
O texto não soluciona o problema que anuncia. Há certa, muito limitada, carga de verdade no que aponta, mas especialmente se não considerarmos o erro de perspectiva (epistemológico); erro que cometemos se continuamos a nos encantar somente com a ‘gostosura historiográfica’ (perder-se em remissões, sem verdadeiramente método próprio); isto, se não totalmente, principalmente.
A autora dá certa ênfase à questão da divisão social (e oficial) do trabalho (tema ao qual poderia se restringir, talvez aí seu intento se tornasse possível). Certo, o mundo mudou e disto é preciso tratar. Mas há questão de fundo (qual ‘produto’ oferece cada profissional formado?), muito mais relevante, e a determinar a questão escolhida ou privilegiada.
Pergunto: tratar como? Como fica a relação de tudo o que se aponta com a educação, a formação? É preciso fazer escolhas aqui, nem que sejam temporárias (produzir é descartar, extirpar). Escolhas custam: não se pode ter tudo, às vezes, nem o melhor de algo restrito (além dos recursos financeiros, custam os limites ‘de atuação’). E fazemos tais escolhas sempre premidos por ditames de circunstâncias (história pra valer e não para citar); talvez visando um futuro onde elas sejam melhores (projeto? hipótese).
Quanto a isto, para projetar o espaço que o homem construirá, em variadas escalas e circunstâncias de todo tipo (e no e para o projeto, elas existem no presente irrevogavelmente, mesmo que se reportando ao passado e ao futuro), o que temos é o chamado arquiteto e urbanista e a arquitetura e o urbanismo que se ensina a ele (e o projeto como processo/produto de seu trabalho; arquitetura e urbanismo de fato, somente com muito mais do que arquitetos). Tudo sujeito a transformações, atualizações, mas essencialmente, o que muda?
Eu diria que sem projeto (ainda que as projetualidades sejam várias e mutantes, mas esta variedade só pode ser mais efetivamente abordada em seu campo), sem chance. A considerar a hipótese de outra coisa, falta inventar o que ainda nem sabemos o que buscaríamos neste intento (pois ainda confunde-se projeto com o que se almeja com ele; o arquiteto ‘fetichiza’ o projeto; numa relação difícil de resolver: cobra-nos uma lucidez que o mundo de sobredeterminações sucessivas dificulta, para muitos, veda). Dito de outro modo, para encontrar a forma do espaço, o que seria melhor do que o projeto? Só outro. O que teríamos seria substancialmente projeto. Todos os possíveis projetos se veriam diante da projetualidade (no fundo o que interessa, num debate franco). Ou seja, a forma de pensar o projeto fora de um único e circunstancial (histórico) projeto (ainda que também com e fazendo uso dele; cada um e todos).
E sim, a questão da habilitação é sempre espinhosa (complexidade requer especialização, esta cobra ‘retorno’ aos investimentos de se especializar… para instituições ou pessoas). É uma reserva de exclusividade sempre (bradar contra isto tem sido hipocrisia e estratégia sacana; alegar que se deve “mudar” para permanecer…). A margem aqui está no quanto; batalha eterna e sem possibilidades de mudanças aceleradas, pois estão em questão fatores de amadurecimento lento (em seus ciclos:… de formação, prática profissional, produtos dela, respostas destes produtos às mudanças de conjuntura, difusão de novo conhecimento…).
Em suma, falta (re)definir o que é (deve ser) urbanismo dentro de uma FAU (isto, se as mantemos e mantemos o arquiteto e urbanista; o que não é obrigatório, mas é mais viável, por enquanto e provavelmente por muito tempo ainda; quanto mais tempo, por mais tempo ainda; esta é a economia essencial, no conhecimento, para além das finanças, mais implacável, pois é o que até alimenta a quebra de paradigmas: num ‘acúmulo dinâmico’).
Se for algo a que se chega através do projeto e da projetualidade, não há o menor conflito com outras áreas, campos (embora, sim, é preciso melhor especificar isto no papel de um CAU e, mais que tudo, é preciso não mais confundir as coisas; o urbanismo é diverso em cada campo e só assim podemos almejar um ‘único no real’; de outro modo ele nos escapa, para tratamento).
Tenho certeza que sociólogos, geógrafos, antropólogos etc continuarão com medo de lapiseiras e grandes formatos de papel em branco, por assim dizer (quem quiser pode trocar o ferramental aqui referido por computares, softwares… – e esta é outra grande questão, mas que requer um pensamento também interno à projetualidade; diminuiria o medo? Quando a traquitana intermediária for extremamente ‘amigável’: pensar e desenhar serão a mesma coisa; ainda chegaremos lá; quando então, talvez não precisemos de arquitetos e nem de urbanistas, nem paisagistas, nem…).
De imediato, esclarecendo tais coisas, talvez, incautos não incorram em escolher formações inadequadas às suas verdadeiras pretensões e possibilidades – mas, calma, enganos sempre cometemos e são passíveis de serem corrigidos; sem desespero!
Nada disso impedirá um rico diálogo entre os mais diferentes de todos nós (tão mais rico, quanto mais diferentes formos uns dos outros). A realidade é uma coisa misturada mesmo. A teoria é que não, não tanto, menos ainda a ‘prática teórica’: exercício da metodologia.
Projeto não é realidade, só parte dela, formação e habilitação idem. Comecemos por partes?
(A atuação mantém, sempre, distância da formação – vice versa – em cada um de nós, individualmente; e é ótimo que assim seja – desse modo nos fazemos únicos, mais interessantes ao conjunto, e também os nossos produtos; mas esta distância não pode ser programada, nem deve; pertence ao acaso dos tropeços de cada um pela vida; e a formação/habilitação não engessa ninguém: na prática, a teoria é outra e aí da teoria, se quiser fazer-se prática! ela enfia os pés pelas mãos, já ocorre isto em situação mais ‘branda’: quando uma teoria faz-se passar por outra sem ‘tradução’; multidisciplinaridade não existe, o múltiplo não se deixa reger por disciplinas; o possível – e necessário – é beber na multi-realidade para pensar em teoria, sempre restrita)
Sem dúvida, ter como razão o grito de guerra da arquitetura somado ao urbanismo, valoriza mais os ideais dessa nova CAU, e nada melhor do que provar isso lançando um concurso ai com base no que o leonardo comentou, colocando em prática tudo aquilo que foi idealizado pra criação dessa CAU. Mais creio que o mais importante é fazer com que essa CAU se fortaleça mais e mais, valorizando o arquiteto por meio de ações totalmente democráticas, sem fins lucrativo como IAB e CREA, que somente se interessam por dinheiro. COMO?… concursos estritamente urbanos é um exemplo, onde deve ter um estudo e uma apresentação bem elaborada e clara num edital, que por sua vez deve ser avaliada pela CAU e lançada para fazer valer sua função na pratica do arquiteto e do urbanista em temas dos quais exigem muitas ideias… um bom exemplo, seria um concurso para desenho e soluções urbanas em áreas serranas de risco no Brasil, em função do desastre no RIO nas ultimas semanas… temos muitos arquitetos e urbanistas bons espalhados pelo Brasil e não são explorados por meio de concursos. É isso, se temos profissionais, devemos valoriza-los nesse sentido. Claro, se essa nova CAU realmente tem interesse em dar força a essa classe que pouco tem valor nesse país atrasado chamado Brasil.
Muito a propósito: artigo “O CAU e a farsa corporativa da vinculação exclusiva do urbanismo e da arquitetura”
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.128/3694
A primeira e simples providência, para dar o exemplo, é fazer concurso público para os projetos das novas sedes e das logomarcas dos CAUs. Será o sinal de seriadade que precisamos.
Primeiramente quero parabenizar nosso colega Fabiano Sobreira e todos os profissionais que atuaram diretamente na aprovação do CAU.
E almejo deles um único ideal que é a União de todos os profissionais em prol do resgate de nossa profissão, seja no âmbito profissional ou social, temos de novamente sermos os empresários da construção civil, chega de leigos tomando as decisões urbanisticas das cidades, moro em Porto alegre e tristemente desde a década de 80 não se produz nada de especial na cidade.
grato pelo comentário
e parabéns a todos nós
pelo CAU
Ferolla,
o jugo dos engenheiros resulta do fato de o CREA não corresponder… (aliás, peça ao CREA seu acervo técnico depois de recolher as ARTs e veja o que o CREA lhe exige; ele ‘não responde por si’) como você também aponta e, tendo sido freqüentemente dirigido predominantemente por engenheiros, não só arquitetos resultaram submetidos, mas até mesmo outros engenheiros (além dos civis…) que, como você aponta, tampouco estão satisfeitos. E como o assunto é o CAU frente ao CREA, noves fora… Arquitetos se manifestam contra ‘esta gestão de engenheiros’, entre outras coisas.
Quando um arquiteto reclama por ser representado em conselho tão abrangente, ele, por suposto, não deplora a existência, em absoluto, dos demais profissionais com os quais não gostaria – somente – de compor o mesmo conselho – certamente aceita compor o mesmo ‘mundo’, até o mesmo ‘submundo’ (sem trocadilhos).
Meu Deus do céu! Com que facilidade se entende as coisas ditas pelas não ditas. (mesmo caso de Palazzo aqui, com a sociologia urbana acerca de meu comentário). A engenharia do Brasil é ótima e necessária, especialmente no cálculo do concreto armado. O defensor do CAU não é aquele que quer ver o CREA e os engenheiros “queimando em qualquer fogueira” (certamente, também não numa fogueira específica; mas eu digo: não quero ver engenheiro fazendo projeto arquitetônico, nem pretendendo tolher minha concepção de sistemas estruturais compondo a concepção arquitetônica; é a formação de arquiteto que possibilita isto, ao menos em tese).
O arquiteto, com carradas de razão, só protesta ter menos poder de ação quando deve tratar de assuntos mais específicos com aqueles que não tem os mesmos interesses, perspectiva, entendimento etc que ele, em parte, teria.
Com o CAU, vem então nova diversidade – entre arquitetos – de interesses, perspectiva, entendimento etc. Vide o caso das relações arquitetura-urbanismo mencionadas acima.
Regulamentar e promover o exercício de uma profissão, seja ela qual for, é uma atitude necessária. Com os arquitetos, a questão é ainda mais importante, para que a profissão seja desvinculada da visão comum de que é apenas a de ornamentação e extremamente parecida com a dos engenheiros civis. Se vier acompanhada de concursos públicos, a notícias é ainda mais bem-vinda. A criação de novas vagas e a promoção de concursos para projetos de empresas públicas é algo louvável. Realmente será necessário que os profissionais envolvidos nesta mudança não ajam de acordo com a atual administração do Confea/Crea, mas crie, sim, uma administração própria, mais eficaz e moderna. A verdade é que toda a discussão só acabará com o tempo, depois de se perceber o que aconteceu. Esperamos que seja o melhor.
Começo pelo fim:
Retribuindo os votos, te desejo, Sobreira, o mesmo sucesso desta página, fruto exclusivo do seu heroico empenho em, divulgando concursos de arquitetura, insistir na importância deles para a valorização do nosso trabalho e da nossa profissão.
Vejo hoje seu objetivo mais que alcançado: superado. Páginas na rede, sobre arquitetura, há muitas, mas nenhuma tanto cresceu ao acolher e promover debates de alto nível e grande importância nacional.
Foi aqui onde se promoveram os desmascaramentos do “manifesto” dos autointitulados “arquitetos da copa” e do (literal) acobertamento de uma garagem sob o eixo monumental por uma “praça da soberania”, onde se esperava, acima da lei e da ordem e de qualquer suspeita, a consolidação da lambança sob a égide do “notório saber”.
E tudo isso sem qualquer publicidade ou “apoio institucional”.
Mas o assunto, aqui, agora, é outro, e muito sério.
Venho ouvindo muito oba-oba sobre este Cau, como se fosse, até mais que a cal, capaz de introduzir alguma novidade no nosso fazer.
Sempre olhei e continuo olhando – fazer o que, nasci mineiro – com a maior desconfiança tanta insistência e tanto interesse na criação de um órgão “regulador” próprio, para controlar este nosso “Santo Ofício”.
Completados neste dezembro último 40 anos de prática profissional, nunca me senti sob o “… jugo do sistema Confea/Crea…”, nem prejuízo algum me trouxe o “… predomínio dos engenheiros neste sistema…” que me leve considerar o CAU “… um progresso…” (que o colega Hespanha interprete como preguiça este “Ctrl+C-Ctrl+V”).
Obviamente me causou, e me causa, ao longo desta longa e ainda ativa prática, ressentimento com uma instituição vorazmente dedicada a cercear qualquer irregularidade no cumprimento de suas compulsórias arrecadações, sem igual contrapartida na proteção e valorização da nossa prática. Não se trata, contudo, de ressentimento maior ao que sinto ao preencher minha declaração anual à receita, de igual modo todos pagamos, contrariados, por não vermos os benefícios, para o país, desta nossa contribuição.
Não há quem possa dizer, contudo, que haja prejuízo nosso para benefício de alguma das outras categorias incluídas no sistema Crea-Confea, pois este ressentimento não é exclusivo da nossa classe, perguntem o quem pensa, a respeito, qualquer engenheiro.
Meus primeiros anos na EAUFMG assistiram grande rivalidade entre engenheiros e arquitetos, mas enquanto os cães ladravam, a caravana passava, de fato, dirigida por outros (advogados, e pasmem, até mesmo por um dentista…), mas em momento algum constatei, até hoje, algum benefício desta contenda na nossa prática, pelo contrário, enquanto muitos perdiam tempo nesta discussão engenheiro versus arquiteto, outros muito mais comprovaram os frutos desta parceria.
Se as grandes obras arquitetônicas da minha geração estão de pé praticamente todas se devem a praticamente uma única pessoa: Ove Arup. Sua primeira contribuição foi viabilizar, menino ainda, os acabamentos das coberturas da Ópera de Sidney, e não mais parou.
Será que o problema da arquitetura é a engenharia? Senão, a agronomia ou a agrimensura? Se tudo é parte integrante do mesmo processo, o que ganharemos, nos afastando, mais do que poderíamos ganhar se mais nos dedicássemos à maior valorização da nossa presença ali, junto com os demais responsáveis por ela, a construção?
Hmmm…
Atribuir ao CAU a salvação da lavoura, como se fosse “… um primeiro passo para realmente promover a arquitetura e o urbanismo… “, é estranhamente ignorar os noventa anos de vida a comemorar ainda este mês o nosso IAB, é desprezar o enorme esforço de tantos colegas que, altruisticamente – e sem qualquer remuneração – lutaram e lutam pelo nosso reconhecimento, pela valorização do nosso trabalho, interna e externamente fazendo valer a nossa presença junto à nossa entidade maior, a UIA.
Não tendo como aqui citar todos, faço patrono desta luta o nobre colega Miguel Pereira.
Sobreira e cabreiramente, considerados estes considerandos, cito o que me transparece como, desta luta, a causa mor:
‘… O CAU, ao contrário, nasce como uma instituição “milionária”. Sem considerar os valores decorrentes das ARTs, vamos contabilizar R$ 350 de anuidade que serão pagos (compulsoriamente) pelos 80 mil profissionais que atuam no país (além dos seis mil que se formam a cada ano nas mais de 220 escolas espalhadas em todo o país): o resultado será uma receita de no mínimo R$ 27 milhões por ano para o CAU… ‘
Hmmm…
É inquietante passarmos a ser controlados por “herdeiro” com tanta verba e nenhuma experiência.
Nada mais fantasioso supor – como querem todas as campanhas pró-Cau – que, ao contrário da indigência dos IABs, estes milhões se destinarão a ‘… “pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da arquitetura e do urbanismo” (de acordo com o texto da Lei que foi sancionada no dia 30 de Dezembro de 2010 – Art.25, Parágrafo Primeiro) e à qual compete (Art.29) – “zelar pela (…) valorização da arquitetura e do urbanismo”…’
As primeiras notícias já nascem – como o congresso neste apagar das luzes – com um “estranhamento inflacionário”: Pagaremos este ano R$256,00 ao sistema Crea-Confea, e a previsão é que deveremos pagar ao Cau, de cara, mais 36,72%? Baseado em que? Haverá, para isso, alguma explicação convincente, ou continuaremos a ser tratados, no Cau, como úteis e meros contribuintes?
(Nós quem, caras-pálidas?… Profissionais como eu, com mais de 35 anos de carreira, estão recolhendo simbólica taxa de R$2,56. Terá o Cau a honradez de me cobrar R$3,50?…).
Hmmm…
Para finalizar, sem pretender fechar, mas, muito antes, abrir discussão, deixo aqui perguntas para quem souber responder:
Apenas como ilustração:
O brasileiro tem fama de sonegador e grande parte deste comportamento é atribuída às heranças da dilapidação colonial e da rapinagem estatal. O povo sueco, por outro lado, paga (não posso dizer que não bufe…) 58,2% de impostos, mas decide e fiscaliza, no nível municipal, o destino e a aplicação de sua contribuição.
Como desconheço na íntegra esta lei, posso perguntar:
• Saberemos/poderemos ser mais democráticos que o satanizado sistema Crea-Confea na escolha dos nossos dirigentes?
• Saberemos/poderemos ser menos cartoriais, expandindo, além das atuais atribuições de taxar e multar, todo o apoio à classe na defesa de nossos interesses e na descomplicação para acesso aos nossos direitos, a partir das tão absurdamente burocráticas rotas para obtenção de nossas certidões, estendendo estas facilidades aos procedimentos muitas vezes emperrados porque muitas vezes incorretamente arrecadados e, assim, desvalorizando nosso acervo profissional?
• Saberemos, no Cau, quanto anualmente arrecadaremos? Teremos o poder de regionalizar e municipalizar, em nosso benefício, a aplicação desta renda? Teremos, antes disso, poder para decidir o que será, de fato, de nosso benefício?
• Poderíamos, desde já, sancionar como nosso maior benefício subsidiar o IAB e sustentar todos os seus eventos para que possamos, insuspeitadamente, promover concursos de arquitetura e patrocinar nossos congressos apenas às nossas custas?
• Destinaríamos desde o começo substancial esforço para divulgar e promover a valorização da classe junto às escolas de arquitetura e urbanismo do país?
• Empenharíamos-nos, com o poder a nós conferido por esta grana colossal, na exigência ampla, geral e irrestrita de concursos de arquitetura para toda e qual obra pública, inclusive de coparticipar na definição de suas demandas físicas, e em assim procedendo, extinguir de vez este espúrio conceito de “notório-saber”?
Se for este, claramente, o intuito, eu topo.
Por outro lado, àqueles que, lendo isso, comentem que “esse cara é ridiculamente utópico, senão um idiota”, respondo:
Fiquemos, então, no Crea-Confea.
Prefiro ser sacaneado e/ou roubado por pessoas que desconheço.
Caro Palazzo,
No que me diz respeito (acho que fui o único a tocar neste assunto aqui, até agora, e, assim, você deve se referir ao que menciono), dê-se o nome que se queira: Desenho Urbano, Urbanismo, Projeto Urbano, até ‘Morfologia Urbana’, quando contempla a proposição de intervenção etc; meu ponto não é terminológico. O ‘nome’ variou diante de circunstâncias; não são elas, tampouco, o que me interessou (história, seja lá do que for). Uma ou a reunião de algumas das circunstâncias, e não só no Brasil, associou e/ou aproximou a arquitetura e o urbanismo; e todo um campo disciplinar, de conhecimento, se desenvolveu a partir daí (para mim, pelo que teriam de comum: morfologia e projetualidade do espaço nos mais diversos âmbitos).
Mas este urbanismo associado à arquitetura é ‘um certo limitado urbanismo’, pois o urbanismo é também coisa multidisciplinar (mas, não nos esqueçamos, para multiplicar, antes precisa existir a unidade) e suscita interesse de outros campos (a própria palavra neles tem significado variado). É assim assunto diverso (mas não necessariamente contraditório) em campos distintos. Desde cada campo, ‘urbanismo’ é expressão referida a coisas familiares, às vezes, coincidentes, porém também distintas; de fato ou em termos metodológicos (como a rua para um antropólogo e a rua para um ‘urban designer’; ok, aqui nesta precária oportunidade, eu concordo com sua ‘reivindicação’). E praticamente é assunto de interesse para qualquer campo, diante da importância que o âmbito, a estrutura, numa palavra, o espaço a que se refere, urbano, tem para a maioria da população que habita o ‘nosso mundo’ no planeta Terra. Nossos mais importantes e prementes problemas são urbanos.
Este(s) urbanismo(s) não se contrapõe(m), por suposto, com outro(s). A questão é saber como entendê-lo(s), encará-lo(s), como promover alguma mudança com ele(s). Então precisamos de aprofundamento, especificidade, distinção, disciplina.
Acho que sua manifestação é uma prova viva do que nos falta em nosso campo; arquitetura e urbanismo; que, em suma, eu chamaria de morfológico e projetual. O que seria esta falta? Confundir as coisas e achar que separar coisas distintas seria eleger uma delas e invalidar, denegrir, rejeitar as outras. Ora, isto só é um pressuposto, quando não dito, para aquele que assim entende. Esta perspectiva que separa em caráter ‘belicoso’ (se vendo, muito ao contrário, “integradora”), tem muitas companhias e é hegemônica. Suspeito eu, por motivo que aponto adiante (e um Bourdieu, entre outros, já nos deu as ferramentas para entender).
A sociologia urbana, a antropologia urbana etc etc, ‘n’ campos, disciplinas, são da maior importância, mas o ‘urbanismo’ de que elas tratam não é o mesmo de que trata (ou deveria tratar) arquitetos-urbanistas que escolham operar com o ferramental morfológico e projetual (com sua especificidade). E é claro que, para isto, este arquiteto-urbanista deverá recorrer a um conhecimento que é produzido no âmbito da sociologia urbana, dentre muitos outros campos.
Tratávamos do papel de uma associação de classe profissional, o CAU, também da habilitação (que legitima os seus integrantes) que a profissionalização e especialização pressupõem e, ainda que indiretamente, mas necessariamente, também tratávamos da formação, do ensino e da pesquisa, que possibilitam esta formação. Foram a tais coisas que procurei me referir, não a uma ‘contenda’ que almejasse a exclusão de outros campos, nem conferir maior importância a como dado campo vê algo. O desenvolvimento de certo conhecimento não requer a destruição do que se busca em outro tipo de conhecimento, ainda que isto possa, em parte, acontecer; mas sem precisar ser almejado.
Esta perspectiva é infrutífera. Mas ainda muito freqüente.
Suspeito que por trás disto existem arquitetos-urbanistas (de formação) que têm, verdadeiramente, interesse em trabalhar com sociologia urbana (ou noutros campos), mas, ao mesmo tempo, querem desfrutar dos espaços institucionais de que dispõem em nossas FAUs e afins (ainda imaturas em suas pesquisas e ainda às voltas com a ‘definição de seu objeto’; reféns das origens, em seus estudos, de seus componentes mais maduros), espaços criados por/para arquitetos-urbanistas, de um modo ou outro, assim, fugindo da disputa pelos espaços institucionais entre sociólogos, geógrafos, antropólogos etc (onde existe maior maturidade e a concorrência é mais dura).
Considero que todos perdem com isto.
Talvez falte criar instituições verdadeiramente multidisciplinares e num formato distinto (flexível) do que temos tido naquelas que se dedicam a objetos específicos e distintos (como lhes cabe: primeiro a unidade, para depois o múltiplo). A multidisciplinaridade não é um problema de somente uma disciplina…
Curioso como freqüentemente se invoca em defesa do CAU o fato de que o Brasil era o único país “importante” a ter um conselho multiprofissional… Ao mesmo tempo que se apega à indissociabilidade entre arquitetura e urbanismo, indissociabilidade que também só existe no Brasil! (ou será que quando falamos em urbanismo estamos nos referindo só ao desenho urbano, desprezando a importância capital da sociologia urbana e outras sub-disciplinas?)
Fico me perguntando agora … Qual será o futuro do IAB ?
Temos hoje duas “lutas” que devem ser assumidas da mesma maneira como nos organizamos para conquistar o CAU: a obrigatoriedade da contratação através de Concursos Públicos de Projetos e a Implantação da Lei da Assistência Técnica. Se vencermos mais essas duas “guerras” alteramos a realidade de nossa profissão no Brasil. Conclamo aos colegas a “focarem” nesses dois objetivos. Acreditemos que a luta coletiva traz consequências mais concretas, rápidas e positivas que a tentativa da luta individual.
Feliz 2011
O CAU não deve ter apenas funções burocráticas como cuidar de ARTs ou ser o órgão regulamentador da profissão do arquiteto, mas tomara que seja algo que torne a classe de arquitetos mais forte, que lute por nossos serviços, para que os arquitetos não sejam explorados dentro dos escritórios de arquitetura, trabalhando muito mais de oito horas diárias, fora das leis CLT, por salários medíovres, tendo apenas deveres e nenhum direito, para que apenas o nome do dono de escritórios, construtoras e incorporadoras sejam valorizados. Tomara ainda que o CAU também se utilize de propaganda, e concientize as pessoas, eduque os cidadãos comuns para que entendam PARA QUE SERVE UM ARQUITETO, pois a grande maioria das pessoas não sabe o quanto sua vida seria mais fácil se contratassem esse profissional em diversos momentos. O CAU precisa ajudar a trazer qualidade à nossa arquitetura, e consequentente, implantar uma cultura arquitetônica no Brasil, desde preservação de patrimônio, qualidade da construção e sempre, contratação de mão-de-obra qualificada, em todas as instâncias.
Amém! Que seja um sonho e não um pesadelo.
Sem dúvida, sair do jugo do sistema Confea/Crea e do predomínio dos engenheiros neste sistema é um progresso, talvez um primeiro passo para realmente promover a arquitetura e o urbanismo (sim o urbanismo também, caro Sobreira, com ele a arquitetura é outra coisa – muito mais capaz e ‘necessária’ – e esta é uma grande questão a ser ainda enfrentada e sobre a qual nem ainda existe a devida consciência, pois vivemos ‘entre a cruz e a espada’ neste aspecto – explico adiante). E também concordo quanto ao papel dos concursos como meio de dar dimensão pública ao que se promova na/com a arquitetura e no/com o urbanismo (aqui já temos algo do que menciono acima; a arquitetura só ganha a sua verdadeira dimensão pública com o urbanismo, como, através e com ele, formula-se hipóteses tanto arquitetônicas quanto urbanísticas, ao mesmo tempo; e isto o arquiteto-urbanista pode operar na projetualidade, com ou sem CAU).
Que cruz e que espada?
Existem, e não são poucos, os que crêem ser possível e até melhor conceber somente arquitetura ou somente urbanismo ou somente paisagismo (porque acreditam que estas coisas existem apartadas; sim, é o que ocorre nas medíocres situações contratuais ou de negligência). Sem conectá-los em toda e qualquer circunstância, ainda que existam situações em que se deve dar ênfase numa ou noutra destas abordagens, embora elas jamais ocorram totalmente independentes.
O que se faz então, em qualquer um dois casos, é produzir uma arquitetura ou um urbanismo ou um paisagismo incompletos, em tom menor, ‘aleijão’.
Assim, no que a história tem forjado, ditos arquitetos se colocam contrários a ditos urbanistas (paisagistas têm sido mais poupados e têm poupado; o erro aqui resulta em apaziguamento: paisagismo é “criar jardins” – eventualmente, há refrega com agrônomos metidos à ‘estetas’, mas, no geral, o paisagista jardineiro é tido como ‘complementar’ e ‘não incomoda’ – temos o mesmo na arquitetura de interiores? Com o dito decorador? Paremos por aqui, senão a história se alonga).
Em resumo, se no mercado há certa pressão por especialização, no ensino, na pesquisa, na formação e na prática profissional existe uma acomodação que toma esta pressão como ‘pauta’, recusando-se a pensar desde a disciplina mesma.
Esta reprodução no ensino, na pesquisa, na formação e na prática profissional implica em perda de conhecimento, por indefinição do objeto de todas estas instâncias; na verdade, um só objeto, a forma do espaço e do que ele contém.
Muito do “urbanismo”, mesmo entre arquitetos-urbanistas, é mais do que tudo sociologia urbana ou coisa que o valha. Muito da “arquitetura” é agenciamento de mera construção e especulativa, para satisfazer a sanha do mercado imobiliário mais tacanho; o que se produz aqui é absolutamente ditado por tal perspectiva; o “arquiteto” é refém ou ‘não existe’, temos, na verdade, um ‘empreendedor’ (e no ensino, a disciplina ‘empreendedorismo’, com perda de carga horária em disciplinas projetuais).
O “paisagismo”, quase por completo, se faz mera ornamentação, apliques de bijoux variados no/do espaço que sobra à “arquitetura” e ao “urbanismo”, desconectados: condição em que sobra mesmo, pois!
Mas deixemos cruzes e espadas e voltemos ao nosso assunto de origem. Até aqui temos então os objetos de ‘trabalho’ (5): arquitetura, urbanismo, paisagismo (como formas de abordagem que ‘fundam’ nosso campo e que estão em jogo na projetualidade), CAU e concursos. Para ficarmos ainda numa perspectiva restrita, mas essencial.
Então, falta definirmos como tais objetos devem ser encarados/abordados para lograrmos aquele fim da ‘promoção’ (da qualidade e da função social).
Quais os riscos? Diria que, de modo cauteloso, Sobreira já os aponta: fugirmos do ‘esquema cartorial’.
Eu digo que também fugir do esquema corporativista que pode até estar na origem do CAU; e podemos espelhar isto por uma ‘figuração’: o CAU pautar-se por uma espécie de lema que ninguém declara, mas talvez pratique (vide a OAB; adiante, o porquê) “nossa categoria contra a sociedade; servimo-nos dela”.
A promoção (que Sobreira menciona) neste caso se faria somente como um slogan, se o CAU e a produção arquitetônica, urbanística e paisagística não refletir práticas profissionais, sistema de formação, ensino e pesquisa compatíveis com uma postura que é a de servir à sociedade, nunca servir-se dela.
Ora, mas na raiz de uma associação de classe profissional e que tem como função precípua o controle do exercício profissional, isto também não se dá sem passar pelo controle da habilitação (e tome mais OAB, como mau exemplo: culminando no exame de ordem). Mas e quem julga o juiz? Dentro destas instituições, sabemos bem o que se passa: nem todos são iguais “entre iguais” (somente na hora de pagar anuidade?), não é mesmo?
Isto, para o bem e para o mal. Condição essencial que dificilmente se resolve, pois ela não depende somente de princípios de ordem, discursos, leis, mas de diuturna prática (e muito passível de manipulações subterrâneas, miúdas, muitas vezes, mas que se somam e ganham importância).
Tal questão pode ser desenvolvida de diversas formas, implicando diversas outras questões. De novo, limitemos-nos aqui ao assunto concursos.
Sobreira menciona o esforço, sem as devidas condições, de voluntários (voluntarioso?), dos IABs e de como, mesmo carentes de recursos, os IABs estão presentes na organização da grande maioria dos concursos.
Eu então entro com minha questão de fundo. Temos concursos e IABs como ‘objetos de trabalho’ (2), mas em qual ação? Como? O que tem ganhado a arquitetura e o urbanismo, também o interesse público, com estes concursos?
Há uma produção, o chamado a ela. Existe quem produz e tal produção tem revelado talentos e capacidades, tudo tem certa repercussão. Mas…
As condições de organização e participação atendem mais aos interesses dos promotores do que dos participantes concorrentes e da sociedade. Por quê? Curto e grosso; sai barato para o promotor, que tem uma grande gama de escolhas por um preço pouco maior do que um único projeto, na pior das hipóteses.
Raramente se constrói a proposta que foi julgada ‘vencedora’; a proposta vencedora não vira arquitetura, urbanismo e paisagismo, de fato, morre nos ‘papéis’: pranchas e atas, alguma publicação.
As condições oferecidas (informação prévia, o prazo para elaborar as propostas, sua formatação, uma única etapa e exigindo tudo de uma vez sem remuneração alguma, na maioria dos casos) para desenvolvimento dos projetos (e isto já é fundamental para ‘promover’ a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo, promovendo o que mais importa: ainda que indiretamente, a qualidade da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo propostos, podendo contar com patamar mais elevado para a partida da elaboração projetual) é mínima e isto constituiria esforço do promotor, sob elaboração do organizador, mas se facilita as coisas ao primeiro. Ora, quem facilita? O IAB; que é quem, por suposto, representando os arquitetos-urbanistas-paisagistas, teria as condições de mostrar as razões e exigir algo de melhor neste sentido. Mas não o faz. Se o CAU repete os IABs, ficamos na mesma. (O promotor – mais do que os participantes do concurso – resulta mais próximo dos organizadores – e com o cheque e a caneta em mãos -; simplesmente ‘ter o concurso’, não raro, é mais importante do que as condições sob as quais ele ocorre, erro fundamental; diuturnamente, o que fazer sob tais condições? Quais interesses prevalecem? A miudeza corrói a grandeza das manifestas intenções)
Terminados os concursos, a repercussão, a divulgação e o debate acerca dos resultados, mais ainda, debate em torno do que contém os projetos premiados, são mínimos. Não raro, até algo acovardado, pois se foge do debate mais franco; inclusive, alega-se aqui um arremedo de ‘ética profissional’; em nome do mais deslavado corporativismo, quando não, mesmo vigora o velho e ‘bom’ compadrio.
Aqui, se existisse realmente o interesse público e a qualidade da arquitetura e do urbanismo como finalidades não se poupariam indivíduos, pois eles, em sociedade, devem ser submetidos ao interesse coletivo, não se pouparia “reputações” (como se nos faz pensar, em chave autoritária, um discurso freqüente), pois elas só seriam fato diante da excelência (sempre objeto de debate e questionamento, pois só assim avança a disciplina) e não de outras ‘prerrogativas’. Em suma, os critérios seriam mais meritocráticos. Não haveria ‘apadrinhamentos’, nem pupilagens, se teria elevado a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo como entes e disciplinas, jamais os personagens ou personalidades, estes somente viriam figurar algum panteão após e sob o domínio das obras. (Aqui, arquitetos-urbanistas devemos abandonar aquela velha noção de ‘criativos’ acima do bem e do mal, tão danosa!)
Estamos em condições de fazermos isto? Ao CAU caberia tal tarefa? Ele seria realmente capaz? Qual CAU teria esta capacidade? Haveria interesse num CAU desse tipo?
Diante do que tem havido, sou bastante descrente.
Reverter tudo isto custa. Pois bem, limitando-nos ainda às possibilidades dos concursos, o promotor do concurso, público ou privado (neste último caso, especialmente quando a intervenção é de interesse público; mas quando não é?), com o concurso dispõe de uma razoável gama de escolhas (projetos); ora, isto também (elaborar propostas) custa e, por fim, custa justamente a tal promoção da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo, na qualidade e no interesse público, mas agora de outro lado (mesmo?). Onde entra o CAU aqui?
Se o CAU somar erros do CREA (por ‘herança’) com os do IAB (por ‘tecnologia’), estamos todos fritos. E não somente arquitetos-urbanistas-paisagistas.
Tomara que não.